1897/2017: 120 Anos da Congregação do Espírito Santo, em Tefé-AM – Por Raimunda Gil Schaeken

Professora Raimunda Gil Schaeken (AM)

A história da Congregação do Espírito Santo é marcada pela personalidade de alguns homens que se deixaram desafiar pelos problemas urgentes de seu tempo. Aceitaram com coragem e sensibilidade as inspirações do Espírito Santo. Fascinados por Ele, atraíram outros discípulos a reviver, numa comunidade de irmãos, a experiência de uma Igreja que se formou no seio dos Doze, ao redor do seu Mestre.


Homens da Igreja, eles não desanimaram frente às resistências que encontraram na própria Igreja. Bondade e austeridade não se excluíam, mas se completavam. Fidelidade ao pormenor e visão de conjunto, realismo e esperanças audaciosas não entraram em oposição, mas andaram juntas. A perseverança se alimentava de intensa vida de oração e deu um feliz resultado aos seus esforços.

 

Professora Raimunda Gil Schaeken (AM)

É fruto da união de duas congregações: Congregação do Espírito Santo fundada por Cláudio Poullart des Places no dia de Pentecostes, 27 de maio de 1703, na capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, na igreja de Saint-Étienne-des-Grés, em Paris e Congregação do Sagrado Coração de Maria, fundada por Francisco Maria Paulo Libermann, em 25 de setembro de 1841, em La Neuville-les-Amiens, diante da imagem de Nossa Senhora das Vitórias. Esta Congregação devia se ocupar com a catequese da raça negra.

Tanto uma como a outra tinham os mesmos objetivos. Por isso, resolveu-se fundir as duas uma só.
Após a fusão, ocorrida em 28 de setembro de 1848, e por Decreto da Sagrada Congregação da Propaganda, foi acrescentado ao título de Espírito Santo a invocação de Coração Imaculado de Maria, resultando o nome atual de: “CONGREGAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO SOB A PROTEÇÃO DO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA”.

O Espírito Santo e Maria, para os seus fundadores, não foram apenas duas devoções que se juntaram. É da união profunda do Espírito Santo com Maria que a missão tem a sua origem e plenitude. Os espiritanos, assumindo o Espírito Santo e Maria como fonte da sua espiritualidade, procuram revelar ao mundo esta união, onde a missão tem o seu berço.

É no coração do Povo de Deus e entre outras vocações suscitadas pelo Espírito Santo que os Espiritanos, são chamados pelo Pai para o anúncio da Boa Nova do Reino, no seguimento de seu Filho.

Vale lembrar, que foi Dom Antônio Macedo da Costa, Bispo de Belém- Pará, o grande responsável da vinda dos ESPIRITANOS para o Brasil. Foi ele, que através de cartas, ao Superior da Congregação, expunha a situação deplorável da vasta região amazônica em termos de falta de clero para o imenso trabalho de evangelização de índios, seringueiros, escravos negros.

Nessa época, a Igreja trabalhava junto com o Estado, e a Igreja de toda a Amazônia era animada e comandada pela Igreja de Belém-Pará.

No dia 1º de dezembro de 1885, chegaram os primeiros espiritanos, em terras brasileiras (Belém-Pará) para assumir a formação do clero local no Seminário Menor do Carmo e de outros trabalhos pastorais.

Os espiritanos da França trabalharam em Belém até o ano de 1897. Vários fatores vieram prejudicar a obra dos padres espiritanos em Belém:

1- A mudança do bispo de Belém, Dom Macedo substituído por Dom Jerônimo e logo este também por Dom Antônio Manuel Castilho de Brandão. O conflito com este bispo foi o principal motivo da saída dos espirtianos de Belém. A questão era o rendimento do seminário menor e do preço (muito caro). A separação da Igreja e Estado tinha fechado a torneira dos subsídios governamentais à igreja. O bispo ficou apertado.
2- A Proclamação da República também prejudicou indiretamente a obra espiritana, através da situação de penúria financeira, criada por ela nas dioceses.
3- Outro fator importante foi a língua, o domínio do português e, ligado a isto, a mentalidade francesa dos missionários, um tanto colonista e com a ideia europeia de uma igreja sitiada por forças de laicismo e liberalismo. Porém, o motivo principal da saída foram as exigências do bispo Dom Antônio, quanto à orientação do Seminário, com o que não concordaram a Casa Mãe e a direção do Seminário. (correção: padre escritor e pesquisador Antônio Gruyters, CSSp).

Em 1892, foi criada a diocese de Manaus. O Superior dos espiritanos, Pe. Xavier Liberman, veio para a posse do primeiro bispo, Dom José Lourenço Aguiar. O padre Norberto Dupuy, vigário de Tefé, presente na festa de posse e conhecendo esses espiritanos que dedicavam suas vidas aos mais abandonados, fez um veemente apelo à Congregação para que ela também fosse ajudar aquela região tefeense, que estava muito abandonada pela Igreja.

No dia 28 de março de 1897, o Superior Geral da Congregação autorizou o Pe. Xavier Liberman, sobrinho do falecido Pe. Francisco Liberman, a abrir uma casa em Manaus. Chegaram, no dia 23 de maio de 1897, e assumiram a capela de São Sebastião, da paróquia da catedral, no dia 6 de junho, festa de Pentecostes, tendo à frente os padres Friederich e Parissier.

Logo depois, seguiram para Tefé acompanhados do vigário cônego Norberto Dupuy, os padres Xavier Liberman, sobrinho do restaurador da Congregação, Louis Berthon e os irmãos Tito Kuster e Donaciano Hoffmann, chegando no dia 10 de junho de 1897, recebidos carinhosamente pelo povo. As autoridades locais deram a eles todo o apoio e doaram-lhes o terreno “Sobrado” na Boca do Tefé.

De posse da terra, os Missionários fundaram a Missão, em 27 de junho de 1897, que logo seria o ponto de irradiação da Ação Missionária pelos rios. Com muito trabalho e suor, foram construídas a casa, a capela e a famosa “Escola Agrícola e Industrial da Boca do Tefé”, inaugurada a 2 de fevereiro de 1899, que, em poucos anos, tornou-se famosa em todo o Amazonas.

De início, os padres instalaram oficinas de sapateiro, alfaiate, serralheiro, encanador e carpintaria, além de aprendizagem de profissões, tais como pedreiros, oleiro e outras.

Com a chegada dos padres espiritanos, surgiu para Tefé a esperança de um futuro promissor
Vale ressaltar, que a Casa-Mãe, numa carta de 5 de julho de 1897, deixou bem claro que a prioridade do projeto espiritano deveria fixar a missão entre os índios; por isso era necessário tomar cuidado para manter a independência necessária a respeito da diocese. (H. Wennink, p. 68).

Conhecendo a história da evangelização na Prelazia de Tefé, em tempos precários de meios de comunicação, transporte, saúde, educação, mão de obra qualificada, economia, qualidade de vida, podemos imaginar como foi difícil a vida de tantos padres no exercício de seu trabalho missionário, muitas vezes, passando fome e enfrentando sofrimentos com as picadas de insetos (carapanãs, piuns, mucuins…), as sofridas e penosas viagens em barcos pequenos, colocando sua vida em risco diante dos grandes temporais (fortes chuvas, trovões e raios), típicos da região.

Podemos dizer, com alegria, que os espiritanos, escreveram na Prelazia de Tefé páginas inesquecíveis de sua história. Muitos lá deixaram sua saúde, sua juventude, ganharam cabelos brancos. Outros perderam sua vida no trabalho pastoral, como o Pe. Guilherme Burmanje que faleceu afogado nas águas do rio Juruá, no dia 29 de janeiro de 1981, quando voltava da Assembleia da Prelazia. Seu corpo não foi encontrado. O irmão Falco faleceu no dia 25 de julho de 1988, no hospital São Miguel, quando voltava da 2ª etapa do curso de Teologia, em Manaus. Outro espiritano que dedicou sua vida ao povo de Tefé foi o Pe. Paulo Verweijen, falecendo no dia 10 de agosto de 1998.

Os tefeenses sempre têm demonstrado carinho e gratidão aos padres e irmãos da Congregação do Espírito Santo, testemunhados durante a festa dos 100 anos de presença na Prelazia de Tefé, em.1997.

Em nome de todos os cristãos católicos da Prelazia de Tefé, agradeço de coração todo o trabalho realizado em prol do nosso povo, ora animando, ora evangelizando e defendendo os que não têm voz e nem vez, tendo à frente o Monsenhor Barrat, Dom Joaquim de Lange, Dom Mário Clemente Neto e Dom Sérgio Castriani.(Raimunda Gil Schaeken é tefeense, professora aposentada, católica praticante, e membro titular da Associação dos Escritores do Amazonas-ASSEAM e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas-ALCEAR.)

 

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