
Um evento que foi criado para atender a comunidade de uma região da capital amazonense e que, atualmente, reúne atletas de todas as partes do Amazonas, incluindo do interior do Estado, tornando-se uma das mais tradicionais competições da Terrinha Baré. Essa é a Copa Zona Leste de Jiu-Jitsu, que ocorreu no último sábado (30) e reuniu 650 lutadores no Clube do Trabalhador do Sesi (Coroado). A competição, que recebeu apoio do Governo do Amazonas, via Secretaria de Estado de Juventude, Esporte e Lazer (Sejel), teve mais de nove horas de duração.
Um dos destaques do evento foi Railson Nascimento. O faixa azul, 17, faturou duas medalhas de ouro, abocanhando a categoria Juvenil/Pena, como também a Absoluto, ambas por ponto. Realizando seis lutas durante toda a Copa, o atleta é tricampeão do evento, uma vez que também subiu ao pódio em 2015, 2016 e repetiu a dose neste final de semana. Para o jovem, que descobriu o esporte aos 13 anos de idade, chegar ao topo significa a recompensa de muito esforço e gratidão aquele que ele o iniciou na luta, mestre Márcio Soares, e quem também ele considera como pai.

“Eu estou muito feliz por ter vencido e dedico isso ao meu mestre Márcio Soares, do Clube Pina. Foi ele que me chamou para treinar sério o Jiu-Jítsu, pois eu treinava numa academia pequena, ele viu e disse que eu tinha futuro. Nesse tempo, ele me ajudou muito, pois meu pai não me apoiava, não deixava lutar, treinar, e o Mestre ia na porta da minha casa me buscar para os treinos. E além da preparação, ele me dava comida, me alimentava e, por tudo isso, considero ele um pai, pois o meu biológico está preso agora por pensão alimentícia. Meu sonho é me tornar um atleta de referência e crescer internacionalmente com a ajuda do meu pai e mestre”, disse o estudante do primeiro ano da Escola Estadual Ângelo Ramazzotti, indo às lágrimas.
Para Márcio Soares, a função de mestre e pai é encarada com muita responsabilidade dentro e fora do tatame. “O Railson treina comigo há muitos anos, e ele já passou muita dificuldade. O pai dele biológico, inclusive, me pediu para tomar conta dele e eu tenho essa missão também. Ele é um garoto que eu quero muito bem, que eu fico em cima para melhorar no esporte e nos estudos também. Ele treina quase oito horas por dia, tem uma envergadura boa, pois é alto, e trabalha muito com as pernas, fazendo jogo de guarda. Acredito que ele ainda vai se orgulhar muito da trajetória dele e eu junto com ele”.
Outro que também se deu bem na Copa foi Paollo Maciel, que venceu a categoria Máster/ Pluma. O faixa azul de 31 anos ficou quinze anos afastado da arte suave e voltou à ativa em 2016. Desde lá, ele vem subindo ao pódio e recuperando o tempo “perdido”. O atleta venceu por ponto e deixou para trás Joao Cândido, 33, da academia Kratos.

“Eu dei uma parada porque precisava me concentrar nos estudos, inicie no curso de engenharia de computação e foquei em alguns projetos, mas o esporte sempre fez falta, pois iniciei no Jiu-Jítsu aos 15 anos. Essa já é minha quinta competição da temporada. Acredito que hoje a minha resistência foi o que falou mais alto diante do meu adversário e agora já penso na minha próxima missão, que será a Copa Ajuricaba, em novembro”, contou o casca grossa da Mascarenhas Team.
Aos 25 anos, o faixa preta Vitor Souza da Cruz batalhou pela medalha de ouro e conquistou a tão desejada dourada pela Galo/Adulto. Pela primeira vez participando da Copa, o jovem ainda mostrou que é um verdadeiro campeão da vida, pois coopera com dois projetos sociais, levando aquilo que mais sabe fazer, lutar, para crianças, jovens e adultos de forma gratuita. O rapaz é professor no `Semeando o Bem`, que funciona na Colônia Antônio Aleixo, na academia do mestre Naldo Freitas, e também no Aleimar, um projeto Italiano de Arte Marcial que funciona no Conjunto Bela vista.

“Vencer hoje significa exemplo para meus alunos, porque eles conseguem ver que a gente tem que treinar, que também temos que enfrentar dificuldades, medo, mas que encaramos tudo isso e damos o nosso melhor na competição. Eu sou muito feliz por fazer parte desses dois projetos, pois consigo através do esporte ajudar muitas pessoas e me ajudar também. O projeto Aleimar, por exemplo, ele é bancado por um grupo de pessoas que mora na Itália e fazem doações. Com ele, conseguimos atender todas as faixas etárias e envolvemos a família também, dado apoio psicológico. Além disso, eles pagam para os instrutores, como eu, faculdade. Estou no segundo período de Educação Física graças a esse projeto também”, contou Vitor.
Cria do projeto Semeando o Bem, Elaine Paz, 17, colheu os frutos da boa preparação na Pena/Juvenil e conquistou a medalha de ouro. A faixa azul teve que mudar de categoria para a Copa, e mesmo com poucas semanas de adaptação conseguiu lograr êxito em sua primeira participação na competição. A ideia é focar em outras edições e se tornar conhecida no evento que leva o nome da Zona Leste.
“Esse é um campeonato muito grande, que projeta bastante e hoje tive a felicidade de vencer. Isso é bom, porque também sinto que meu mestre, Naldo Freitas, também fica orgulhoso. Meu objetivo é sempre poder disputar esse evento, em outras graduações, e fazer uma coleção daqui. Quero que os outros me reconheçam no tatame e é por isso que eu luto e me esforço todos os dias”, frisou.
O organizador da Copa, mestre Chiquinho, lembra que há dez anos criou o evento com o intuito de disseminar a modalidade na comunidade e, com o tempo, o evento expandiu e a cada ano que passa reúne ainda mais competidores, sedentos por medalhas, premiação em dinheiro e brindes.
“Quando comecei a fazer o evento, queria dar competitividade aos atletas e acabou que durante esses anos nós crescemos e despontamos. Hoje, por exemplo, contamos com competidores de Presidente Figueiredo, Iranduba, e outros municípios. Ou seja, nos consolidamos e o evento é sinônimo de qualidade”, destacou.