
Durante anos, falar sobre saúde mental no ambiente de trabalho era quase um tabu. Limitado a campanhas pontuais, mensagens institucionais e rodas de conversa pouco efetivas. Felizmente, esse cenário vem mudando — mas ainda devagar demais.
O que muitos líderes ainda não entenderam é que riscos psicossociais não são “questões pessoais” dos colaboradores. São riscos ocupacionais reais — e como tais, devem ser reconhecidos, prevenidos e gerenciados.
Quando não o são, o resultado é claro: ambientes adoecidos, equipes desmotivadas e produtividade insustentável.
O que define um risco psicossocial?
De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), riscos psicossociais envolvem:
Carga de trabalho excessiva ou mal distribuída
Ambiguidade de papéis
Falta de controle sobre a própria rotina
Clima de pressão constante
Relações interpessoais hostis
Ausência de reconhecimento ou escuta ativa
E agora, com a atualização da NR-01, esses fatores passaram a compor oficialmente o mapa de riscos das organizações. Ou seja: não são mais “intangíveis” — são passíveis de ação e responsabilidade.
O papel da liderança vai além de bater metas
Liderar, hoje, é ser guardião da saúde do time. É entender que clima, cultura e cuidado não são “extras” — são essenciais.
Pesquisas da Gallup mostram que 70% da variação no engajamento de uma equipe está diretamente relacionada ao comportamento da liderança. E mais: líderes emocionalmente disponíveis contribuem para a redução de afastamentos por questões mentais e aumentam o senso de pertencimento no time.
Liderança emocionalmente saudável não significa ser terapeuta da equipe, mas sim:
Validar sentimentos sem julgamento
Reconhecer sinais de esgotamento e agir preventivamente
Estimular pausas, autocuidado e limites
Promover uma cultura de diálogo aberto e respeito mútuo
Um olhar atento às vivências femininas
Mulheres em ambientes corporativos ainda enfrentam mais desafios: são interrompidas com mais frequência, recebem menos reconhecimento por ideias e acumulam funções emocionais invisíveis (como gestão de conflitos interpessoais ou acolhimento de colegas).
Líderes atentos são capazes de identificar essas dinâmicas e intervir de forma justa e estratégica — promovendo equidade e prevenindo o adoecimento silencioso.
O que a prática mostra
Nos projetos organizacionais que acompanho, o impacto da liderança é visível:
Equipes com líderes empáticos adoecem menos.
Times que se sentem ouvidos entregam mais e melhor.
Ambientes emocionalmente seguros retêm talentos e atraem profissionais comprometidos.
Ao contrário do que muitos pensam, não é o excesso de cobrança que gera alta performance. É o equilíbrio entre desafio e suporte.
Por onde começar?
Formação contínua em habilidades socioemocionais para líderes
Criação de canais reais de escuta e feedback
Revisão de metas, rituais e indicadores com olhar humanizado
Apoio à saúde mental como política, e não só como ação pontual
Reflexão final:
Se risco psicossocial é risco real, a liderança não pode mais se isentar. Cuidar das pessoas é cuidar dos resultados — e isso começa por quem guia o caminho. Que tipo de ambiente você está ajudando a construir?
Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional