
Um relatório da Polícia Federal revelou que o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), ordenou o uso do software de espionagem israelense “First Mile” para monitorar ilegalmente adversários políticos do então presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a investigação, a operação — conhecida como “Abin Paralela” — teve motivação política e foi articulada dentro da estrutura da própria Presidência da República. O objetivo, de acordo com a PF, era beneficiar Bolsonaro e sua base aliada por meio da coleta clandestina de dados e da produção de dossiês contra figuras públicas críticas ao governo.
Entre os alvos identificados com pedidos diretos de Ramagem estavam o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e a ex-deputada Joice Hasselmann, ambos rompidos com Bolsonaro. A lista de monitorados inclui ainda ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, além de parlamentares de diferentes partidos, como Kim Kataguiri (União-SP), Arthur Lira (PP-AL), Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (PT-AP).
O relatório da PF classifica as ações como parte de um esquema de espionagem com “viés político explícito”, o que pode configurar crimes contra a administração pública, abuso de autoridade e violação de direitos fundamentais.
O caso levanta graves implicações sobre o uso indevido de estruturas de inteligência do Estado brasileiro e pode resultar em desdobramentos no Congresso e no Supremo Tribunal Federal, onde Ramagem já é alvo de inquérito.