
Reportagem especial do Fantástico, da Globo, apresentada no dia 1º deste mês, mostrou que 25,5% de jovens brasileiros de 18 a 34 anos são ateus e 6,7 % declararam-se sem religião.
Motivados pela necessidade de conhecer o novo, o jovem brasileiro vê a possibilidade de ter um novo olhar sobre o desconhecido e o proibido e de adquirir novos valores através do mundo digital e de novas tecnologias, os responsáveis pelo surgimento da Geração Y. Essa mostragem confirma o pressuposto de que Deus vai perdendo a participação no mundo à medida que a consciência humana evolui pelas evidências das verdades científicas ainda timidamente divulgadas.
Pesquisa feita pela Universidade de Chicago (EUA) em 30 países também mostra um crescimento considerável de pessoas que se definem como sem religião. Há muito mais ateus no mundo hoje do que jamais houve, tanto em números absolutos quanto em porcentagem da humanidade. Um dos principais fatores para esse crescimento é a estabilidade econômica e política de alguns países europeus onde o secularismo avançou a ponto de passar o número de religiosos.
Países como Canadá, Japão, Grã-Bretanha, Holanda, Alemanha, França, República Tcheca e Uruguai têm os menores índices de crença religiosa do mundo, enquanto que os Estados Unidos 2,4% da sua população é formada por ateus. É fato social inconteste que todo país de nível social, econômico e educacional elevados, cresce o número de ateus.
Uma educação de qualidade gera absorção do pensamento científico, contribui para o aumento da racionalidade à adesão ao ceticismo (que pode levar ao ateísmo), por conseguinte a eliminação da fé e do pensamento mágico. Como resultado, o progresso da sociedade, a diminuição de males sociais como analfabetismo, criminalidade, pobreza, entre outros, além do aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
O filósofo e sociólogo russo Mikail Bakunin afirmou que todas as religiões com seus deuses e semideuses são resultado da fantasia da credulidade de homens que ainda não atingiram o total desenvolvimento e personalidade de suas capacidades intelectuais.
Educação, saúde, ciência e tecnologia, como alicerces de uma grande nação, dificilmente serão prioridades em países tradicionalmente religiosos como Brasil, México, Arábia Saudita e Israel, portanto, longe de atingir a consciência humana, por conta da manutenção de todas as tradições mitológicas de suas religiões tradicionais, que chegam a desqualificar as verdades científicas. Mas, a consciência humana tende a evoluir até chegar ao ponto que as explicações mitológicas terão de ser substituídas pela crença nas verdades científicas.
Diante dessa realidade crescente, novos desdobramentos poderão ampliar as discussões sobre os resultados dessas pesquisas por aqueles comprometidos com um ponto de vista que os tornam incapazes de enxergar a realidade, e assim dividir os debates basicamente em dois grupos: os que dizem saber da verdade, e os outros que dirão que todos estão errados e perdidos. Entrementes, o jurista Vicente Marotta Rangel adverte para o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião de todo o cidadão, em que inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular.
Como há mais ateus no mundo hoje do que jamais houve, com o avanço da ciência e da tecnologia o declínio da fé parece ser global e inevitável, inclusive em países que ainda são fortemente religiosos, como o Brasil, Estados Unidos, Jamaica e Irlanda. Esse movimento parece estar ganhando força, e o aumento da descrença quanto a eventuais reações conservadoras estão diretamente vinculadas ao ambiente político do país. Isto é fato.
*Garcia Neto é jornalista e professor