

Confesso que não me interessa o numero de candidatos, o que me interessa é a sequência de postulantes. Não me parece desagradável nem monótona, permanentemente animada pelo entusiasmo e postura dos candidatos, suas promessas, convicções e certezas de um trabalho sempre melhor que os outros. Simultaneamente, vou percebendo que apesar de as figuras muito divergirem no aspecto, na idade, no visual, também no arroubo e no tom, os acenos são de uma insistência imutável, com predominância para a educação, saúde, segurança, emprego, melhoria das condições de vida, barateamento das coisas, coibição das regalias, tudo o que o povo deseja e quer.
Com o tempo vou intimamente questionando os anseios desses candidatos, a procura de um degrau a mais, uma evidência, um lugar ao sol. E começo a me apiedar de muitos que ali se expõem, desavisados e sonhadores a prometerem o extermínio da pobreza, a moradia para todos, escolas e hospitais gratuitos, uma escalada de benesses inatingíveis e impossíveis em qualquer ponto do mundo. São principiantes de um novo ofício, alguns marinheiros de primeira viagem num esforço de atitudes e eloquências, certos de uma boa apresentação a lhes proporcionar, pelo destaque conseguido, os votos mais que necessários para o êxito infalível.
Assim não acontece com os veteranos de outras pelejas, que ao curso de jornadas anteriores, e campanhas bem mais seguros, poupando-se das veredas duvidosas. Nada mais árduo e desgastante do que uma campanha política. Uma dedicação exclusiva, tensa, e emocionada a exigir o máximo de disciplina e tolerância por parte do interessado, sempre amável e sorridente, sem qualquer tipo de desconfiança ao companheiro.
Na hora da derrota a política é a mais perversa das madrastas. Jamais vi, padecimento mais atroz, abalo mais comovente, decepção mais profunda do que um candidato na hora crucial da derrota. Homens destemidos e corajosos, veteranos de bravas lutas, companheiros enrijecidos, pelos combates e curtidos pelas refregas, desmoronam-se, aparvalhados, como noviços.
O ser todo alquebra-se de uma feita. Pensando no barco do balatau ( aquele que leva perdedores depois das eleições para darem um passeio de 04 anos pelos rios da Amazônia) o semblante do candidato envelhece em segundos, os olhos se apequenam, lacrimosos, a face é lívida, cor de cera, os lábios tremem afilando-se, a coluna cervical curva-se, baixando a cabeça, a respiração é ofegante, o pulso acelera-se, e ao simples exame objetivo constata-se o intenso sofrimento sob a mais cruel das formas.
A boca é seca, a língua amarga, a falta de apetite constante, as palavras se balbuciam com esforço, e ao simples exame objetivo, constata-se um estado físico suscetível de figurar na nomenclatura médica, sob o título de “síndrome do derrotado”. Entidade de evolução passageira, sintomaticamente amainada em dias, semanas, ou mês, tudo refluindo como a maré que volta.)Flávio Lauria é Professor Universitário e Consultor de Empresas – [email protected])