
O ministro da Educação o pastor Milton Ribeiro, que como educador não apresenta nenhuma credencial, mas deplorou na última semana o nível das redações de jovens que prestaram recentemente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e cujos textos vêm sendo agora divulgados. Para o senhor Milton Ribeiro, “é lamentável que se cometam erros desse calibre”. Observou, contudo, que o próprio sistema de avaliação concorrerá para minorar o problema no futuro. Ponderou ainda que a matrícula naquele grau de ensino expandiu-se em mais de 70% e que uma população carente, proveniente de famílias de pouca escolaridade, tem pela primeira vez a oportunidade de cursar a escola média.
A reação do ministro é correta, tanto ao lastimar a baixa qualidade dos textos como ao recordar que o fenômeno se deve à crescente democratização das possibilidades de formação, evidente decorrência do atendimento praticamente total da demanda pelo fundamental. Ainda assim, a difusão de trechos de composições – que versaram sobre ecologia – é certamente útil para que pais, professores e a própria sociedade se deem conta da magnitude de dificuldades que vão de equívocos de construção e de grafia até uma inquietante ausência de raciocínio lógico.
Alguns estudantes passaram a impressão de que simplesmente juntaram palavras, pouco se importando com seu nexo. Para um deles, “os desmatamentos de animais precisam acabar”, enquanto outro afirma que “precizamos de menos desmatamentos e mais florestas arborizadas”, o que, para um terceiro, “é problema de muita gravidez”, possivelmente “devido aos raios ultra-violentos”. Determinado participante do Enem acha que as agressões ambientais ocorrem porque “todos os fiscais são subordinados; é a propina”.
Mais espantosa ainda é a assertiva de que “os lagos são formados pelas bacias esferográficas”, ou de que “o problema ainda é maior se tratando da camada Diozoni” Dislates dessa natureza deveriam provocar mais do que risos. O que aí se espelha é certamente, como sugeriu o titular do MEC, fruto de ambientes de pouca escolaridade. Mas é ainda também reflexo do processo de desmonte do sistema educacional brasileiro à época da ditadura. Nos anos 70, aboliu-se a redação nos vestibulares, convertidos numa loteria de cruzinhas. O português foi rebatizado como comunicação e expressão, o que até fazia certo sentido, pois estudantes que não liam não sabiam nem se comunicar, nem se expressar. A superação desse cenário melancólico, caracterizado por textos que, independentemente da região do Brasil onde foram escritos, atropelam o idioma, a gramática e o bom senso, só se dará com a qualificação da educação ministrada e, muito especialmente, com o permanente estímulo à leitura. É de lamentar.