A difícil arte de governar – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Difícil encontrar um presidente de república que não perca o sono. Os nossos presidentes têm tido motivos de sobra para a insônia que os acomete. Os problemas do País, muitos dos quais extremamente graves e complexos, transbordam os limites arbitrados pelo expediente oficial, e vão cair em cheio na cama onde, em tese, deveriam dormir os presidentes. É nessas horas da mais silenciosa solidão que as questões assumem a verdadeira dimensão no espírito do dirigente, embora seja possível reconhecer que muitas das soluções para os problemas do País são engendradas nessas madrugadas longas de insônia.


Ainda hoje soa falsa a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que era “fácil administrar o Brasil”. Os cabelos pretos, que se perderam, e os brancos, com os quais entregou o Poder após oito anos de mandato, demonstram quanto é difícil dirigir um país com o grau histórico de complexidade que exibe, a começar pelo fato de que não temos um único Brasil, mas vários brasis a exigir do mandatário maior soluções peculiares a cada uma das partes em que estamos territorial e sociologicamente divididos.

Depois, a formulação de proposituras que abranjam o universo inteiro do País exige enorme carga de prudência e sabedoria, para que o chapéu possa caber na cabeça de todos, sem magoá-los. O peso fatal destas circunstâncias o está sentindo, na carne, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Não se trata do que acha este ou aquele observador. Trata-se de ouvir da própria boca do mandatário o que está a sentir no enfrentamento cotidiano dos problemas nacionais.

Os que mais afloram à imaginação dizem respeito não só em como formar uma equipe de ministros, e manter o auxilio aos pobres do país, mas a violência urbana e a fome de vastas camadas populacionais. Também com a guerra da Rússia e Ucrânia e a elevação imoderada, já em curso, do preço internacional do petróleo. Mas há uma espécie de problema que bate nas costas do futuro presidente Lula da Silva de modo peculiar, específico: o problema da elevação dos juros.

De fato, o crediário de que se serve o povão vai ficar menos acessível, os encargos da dívida governamental vão para mais perto das cabeceiras. E as promessas de campanha política ficam como que pulverizadas pelos acontecimentos de que o dirigente máximo do País não tem o menor controle. Será sempre assim, até que o homem possa subverter as regras da natureza, isto é, quando a capacidade de fazer de um Governo estiver apta a superar até mesmo o imaginário dos políticos prometedores e do povo a quem asseveram representar. É o caso de indagar: se a realidade todos a conhecem por suas minúcias e seus pormenores, por que de quatro em quatro anos nos entregamos ao devaneio, preferindo o sonho como regra-mestra do compromisso?

A insônia presidencial – deste e de todos os demais presidentes – é em parte devida à defeituosa avaliação das dificuldades da arte de governar.

 

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