
Se antes o desafio das mulheres era conquistar espaço, agora ele se ampliou: além de performar no trabalho, espera-se que tenhamos um corpo saudável, uma rotina organizada, relações impecáveis e tempo de sobra para hobbies, filhos, autocuidado e propósito. O problema? Isso não cabe nas 24 horas do dia – e ainda assim nos sentimos culpadas por não darmos conta.
Já percebeu como a narrativa mudou? Antigamente, era a pressão para sermos boas esposas e mães. Hoje, é a exigência para sermos mulheres equilibradas. Parece avanço, mas muitas de nós apenas trocaram um peso por outro.
Essa cobrança não vem só de fora. Está tão internalizada que se manifesta nos detalhes: no mal-estar ao escolher descansar em vez de ser produtiva, na necessidade de explicar uma decisão pessoal para evitar julgamentos, no medo de não ser suficiente em alguma área da vida.
E esse impacto não é só emocional – é biológico. Estudos da Harvard Medical School indicam que mulheres submetidas a altos níveis de autoexigência desenvolvem níveis crônicos de estresse, que elevam a inflamação no corpo e aumentam o risco de burnout, insônia e doenças autoimunes.
Se equilibrar tudo é impossível, a pergunta é: por que continuamos tentando?
O Mito da Mulher Equilibrada
Parte dessa pressão vem da idealização da “mulher que dá conta de tudo”. Ela aparece nas redes sociais em postagens sobre produtividade, nos discursos corporativos que enaltecem a “mulher multitarefa” e até na romantização da sobrecarga materna.
Mas vamos encarar os fatos: equilíbrio absoluto não existe. O que existe são prioridades em movimento. Em alguns momentos, o foco estará na carreira, em outros, na família, no autocuidado ou no descanso. A ideia de que podemos distribuir nossa energia de forma perfeita é uma ilusão – e uma ilusão perigosa.
A American Psychological Association alerta que essa pressão constante leva a um ciclo de frustração e exaustão. Quanto mais tentamos atender a todas as demandas, mais nos sentimos falhando. E o que era para ser uma busca saudável por bem-estar se torna uma fonte de culpa.
A Culpa de Não Dar Conta
A culpa feminina tem raízes profundas. Desde cedo, somos ensinadas a agradar, a cuidar e a estar disponíveis. Aprendemos que nosso valor está diretamente ligado ao quanto conseguimos equilibrar papéis sem reclamar.
Essa autocobrança excessiva se manifesta em pensamentos como:
• “Se eu priorizar minha carreira, estou negligenciando minha família.”
• “Se eu tirar um tempo para mim, estou sendo egoísta.”
• “Se eu disser não a uma demanda extra, não sou competente o suficiente.”
E o resultado? Exaustão emocional, autossabotagem e, muitas vezes, um senso de inadequação constante.
Então, Qual é a Saída?
Se a ditadura do equilíbrio é uma armadilha, precisamos reformular nossas expectativas. Algumas reflexões podem ajudar:
✅ Redefina o que equilíbrio significa para você. Em vez de tentar fazer tudo ao mesmo tempo, escolha o que faz sentido para cada fase da sua vida.
✅ Pratique a autocompaixão. Nem sempre será possível atender todas as demandas – e tudo bem. Estudos mostram que mulheres que praticam a autocompaixão lidam melhor com o estresse e desenvolvem mais resiliência emocional.
✅ Questione padrões irreais. O que você acredita sobre ser uma “mulher bem-sucedida” foi construído por você ou imposto por expectativas externas?
✅ Diga “não” sem culpa. Colocar limites é um ato de autocuidado e saúde mental.
✅ Peça suporte. Equilíbrio não significa fazer tudo sozinha. Delegar, compartilhar responsabilidades e buscar apoio é fundamental.
Mais Realidade, Menos Pressão
Se existe algo que precisamos equilibrar, é a nossa relação com as expectativas. Em vez de perseguir um ideal inatingível, talvez seja hora de assumirmos uma postura mais realista e gentil conosco mesmas.
Porque, no fim, a pergunta não é “como equilibrar tudo?”, mas sim: “o que realmente importa para mim agora?”
Sobre Luanna Cunha
Luanna Cunha é psicóloga, sócia fundadora, diretora executiva e responsável técnica da Permah Consultoria e Psicologia. Com mais de 20 anos de experiência, Luanna construiu uma carreira consolidada em multinacionais dos setores industrial e educacional, onde liderou programas de bem-estar e desenvolvimento organizacional.
Especialista em Psicologia Positiva, Neurociência e Atendimento Clínico para Mulheres, Luanna é reconhecida por sua habilidade em alinhar estratégias científicas com soluções práticas que promovem a transformação emocional e profissional. Além disso, é autora de livros sobre positividade no trabalho, contribuindo ativamente para o campo da psicologia aplicada ao ambiente corporativo.
Na Permah, ela lidera com inovação e excelência, impactando diretamente a vida de pessoas e organizações por meio de programas personalizados de bem-estar e formação de lideranças humanizadas. Seu compromisso é transformar desafios psicológicos em oportunidades de crescimento, empoderando mulheres e criando ambientes organizacionais mais inclusivos e produtivos.