A fabula do macaco – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Desejava, sinceramente, mudar o foco. Mas não consigo. Sou otimista. Por temperamento e convicção. Os pessimistas me aborrecem. São, ordinariamente, preguiçosos. Não suportam o acicate dos sonhos, fogem dos riscos e dos desafios. Preferem olhar para trás e viver de nostalgia. São homens de retrovisor. O Brasil precisa, com urgência, recuperar sua capacidade de empreender e sonhar. A simples leitura dos jornais oferece um quadro assustador do cinismo delinquente que marca o comportamento dos que estão do lado de lá. Eles são claros. Não se preocupam em apagar as impressões digitais. Tudo é feito às escâncaras. Esbofeteia-se a verdade numa escala sem precedentes. Vejamos, ao acaso, alguns registros da crônica política (ou policial) deste lusco-fusco da cidadania. Então vou contar uma história.


Certa vez, um macaco, desses bem astutos, quis fazer um bolo, mas não tinha os ingredientes. Resolveu comprá-los de alguns vizinhos, comprometendo-se pagar a dívida em 24 horas. Da galinha pegou os ovos; da raposa, o trigo; do cachorro, o açúcar; e da onça, o fermento. Dia seguinte, com intervalos de meia hora, os quatro credores apareceram. A galinha foi a primeira. O macaco esticou a conversa, até ver a raposa apontar na esquina. Mandou a penosa se esconder atrás do armário. A um sinal traidor do macaco, a galinha virou refeição da raposa; o cachorro chegou e devorou a raposa e, por fim, a onça, engoliu o cachorro. E aí a feroz credora quis receber pelo fermento. Indefeso, mas com fina astúcia, convenceu a onça de que ela tinha na barriga uma galinha, uma raposa e um cachorro, um régio pagamento. O sossego durou um dia. Faminta de novo, a onça espreitou aquele que se achava o mais esperto da Terra e, não recebendo o que ele lhe devia, comeu-o também. A fábula se encaixa na realidade política do Brasil. Instalam-se governos – vide o do presidente Bolsonaro – e lá vêm as alianças, algumas espúrias.

Com um sistema político fragilizado, quem governa tem que fazer compromisso com um sem-número de parlamentares e dirigentes partidários, buscando deles o apoio para garantir a governabilidade. Às vezes, o governo não quita seu compromisso e acaba virando refém desses aliados, alguns de conduta duvidosa, que têm a goela larga; querem sempre mais. Fazem o papel da onça: vão engolindo um a um daqueles que fraquejam. Quando o governo cai na realidade, há restos e penas para todos os lados. Até agora, o governo continua fazendo o papel do macaco: tenta, por todos os meios, fingir que nada disso que está acontecendo é com ele. A onça está rondando a sua casa, tentando minar a resistência do presidente e do seu governo, que se achou forte e arguto, mas que teve de se aliar a uma gente esquisita, que só quer mais e mais comida – leia-se cargos e benesses mil. Ah!, é preciso ter muito cuidado com os travestidos de onça.

O Brasil não merece isso, ser um reino de macacos, raposas, onças, cães, galinhas e outros bichos. Pobre País, onde uns acham que podem chegar ao poder e governar sem atender aos pedidos de lobos, hienas e cascavéis que o assessoram e rodeiam. O macaco foi para o bucho da onça, traído pela promessa de que sua dívida havia sido quitada. Bolsonaro não pode acreditar em gente que finge ser aliada, mas que na verdade está doida para palitar os dentes após o banquete final.

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