Amazônia agrícola, China líder mundial na produção de tambaqui – por Osíris Silva

Escritor e economista Osíris Silva/Foto: Divulgação

Com ciência e tecnologia, a Amazônia Legal vem se transformando, nos últimos anos, em um grande polo de produção de alimentos. Uma amostra pode ser evidenciada pelos estados de Mato Grosso, o maior produtor nacional de algodão, soja, rebanho bovino e milho; Pará, o primeiro lugar em mandioca, laranja, abacaxi e cacau, dendê e açaí; e Rondônia, na criação de peixes. Distinção também cabe à produção de café canéfora (conilon e robusta) em Rondônia, a segunda maior do Brasil, e à produção de leite, a maior entre os estados das regiões Norte e Nordeste. Maranhão e Tocantins se destacam entre os líderes da produção de grãos do Brasil.


O Acre tornou-se um grande produtor de farinha. O Amapá avança no reflorestamento, Roraima cresce na criação de peixes; Tocantins é o terceiro produtor nacional de arroz, entre outros. Expressiva fatia dessa performance deve-se à mudança do processo de “pecuarização” para a “agriculturização”. A pecuária, informe de alta relevância, cede espaço das pastagens para a expansão da agricultura tecnificada com base nas conquistas tecnológicas da pesquisa.

Tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e instituições parceiras, como o sistema plantio direto, com 46 milhões de hectares em uso no País; a fixação biológica do nitrogênio, com 40 milhões de hectares; a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), com 17 milhões de hectares; controle biológico, com 10 milhões de hectares, enquanto o Programa Balde Cheio e os Sistemas Agroflorestais (SAFs) já são utilizadas em larga escala na região. Há enorme movimentação de tecnologias agrícolas do Sul e do Sudeste em direção à Amazônia, como no caso de grãos, reflorestamento e pecuária.

A síntese preambular refere-se ao artigo “Amazônia como polo mundial de produção agrícola sustentável”, publicado na revista A Granja, de maio de 2021, de autoria do pesquisadores Alfredo Homma, da Embrapa Amazônia Oriental; Alaerto Luiz Marcolan, chefe da Embrapa Rondônia e Judson Ferreira Valentim, presidente do Portfólio Amazônia da Embrapa. O  trabalho, de leitura obrigatória, desenvolve importante diagnóstico da conjuntura agropecuária regional. Para os autores, “na região da Amazônia Legal, o avanço de cultivos de grãos como soja, arroz, algodão e milho, além de espécies como dendezeiros, cacaueiros, cafeeiros, cupuaçuzeiros, açaizeiros, castanheiras, laranjeiras, coqueiros, jambus e urucuzeiros e até reflorestamento têm ocorrido pela mudança de perfil da “pecuarização” para a “agriculturização”. Na base, ciência e tecnologia e respeito ao meio ambiente.

A despeito de dificuldades de porte oriundas do baixo nível de investimentos em P&D, é possível, também no Amazonas, desenvolver novos sistemas produtivos na agropecuária, levando-se em conta avanços de cadeias produtivas promissoras nos campos da fruticultura tropical, a avicultura, agronegócio no sul do Amazonas, manejo sustentável de produtos florestais e pau-rosa, dentre outras essências largamente utilizadas nas cadeias de biofármacos e biocosméticos. Quanto à piscicultura, aqui pouco evolui em decorrência dos baixos investimentos em ciência e tecnologia. Enquanto isso, o tambaqui rompeu fronteiras internacionais, espichou os olhos, nacionalizou-se chinês e nos deixou perdidos em nossa própria incompetência.

Com efeito, em menos de 30 anos de adaptação e aclimatação, a criação do tambaqui em cativeiro levou a China à condição de maior produtor e maior exportador mundial do peixe. Como o tambaqui chegou à China? Diz a lenda que, em 1992, durante a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Cúpula da Terra, o então governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, teria presenteado o Primeiro Ministro Deng Xiaoping certa quantidade de alevinos da espécie, cuidadosamente embalados em saco plástico. O mimo foi levado pelo líder chinês em sua bagagem diplomática para cultivo no país asiático.

No que respeita à produção de borracha na Amazônia, há de se dispensar particular atenção à perda da liderança mundial a partir da segunda década do século XX, fato que decretou o fim do ciclo áureo do produto e levou a economia regional à bancarrota. A origem do problema foi o famoso “roubo de sementes”, há cerca de 150 anos, pelo britânico Henry Wickman, que as transportou para Londres, e daqui para o Sudeste da Ásia, onde o cultivo prosperou impulsionado por  tecnologia de ponta desenvolvida pelos ingleses.

Na Malásia, então colônia britânica, a seringueira, livre do mal das folhas, encontrou solo fértil. Fatores que propiciaram ao país assumir, diante da falência dos seringais amazônicos, a liderança mundial da  produção e comercialização da goma elástica. A expansão da oferta internacional causou de imediato dramática redução dos preços internacionais do produto e a completa reestruturação do mercado mundial da borracha, já em efervescência face às inovações tecnológicas oriundas da Revolução Industrial inglesa da metade do século XIX.

Consequentemente, diversificar a economia via integração do Polo Industrial de Manaus à bioeconomia, como se pode intuir, não é, de fato, tarefa tão simples.

Manaus, 27 de setembro de 2021.

 

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