
A guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia não preocupa o agro apenas pela dependência de fertilizantes. Ela começou também a prejudicar as exportações e um dos produtos afetados foi o amendoim do Brasil.
Os dois países do leste europeu são os destinos de quase metade deste produto brasileiro que vai para o exterior, gerando às empresas daqui cerca de US$ 344 milhões em vendas, no ano passado.
Os russos pagaram por 37,6% desse valor e a Ucrânia, 8,71%, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.
Por outro lado, apesar da sua importância no comércio com esses dois países, o amendoim não está nem entre os 10 produtos mais exportados pelo Brasil. O valor da sua venda externa representa apenas 1% do que o país embarca de soja, por exemplo.
Na Rússia e na Ucrânia, o amendoim é consumido tanto na forma de aperitivo como no preparo de doces. E as remessas do Brasil acontecem durante todo o ano.
“O amendoim estava em processo de embarque [para Rússia e Ucrânia], mas, com o início da guerra, o exportador segurou a carga”, conta o presidente da Câmara Setorial do Amendoim do governo de São Paulo, Luiz Antônio Vizeu.
Os militares da Ucrânia fecharam os seus portos logo após a invasão russa na madrugada da última quinta-feira (24). Já as empresas de transporte marítimo estão suspendendo temporariamente o deslocamento de contêineres para a Rússia, após sanções ocidentais impostas a Moscou.

Uma delas é a gigante Maersk, que tomou a decisão nesta terça-feira (1), seguindo deliberações semelhantes da Ocean Network Express (ONE), com sede em Singapura, da Hapag Lloyd, da Alemanha, e do grupo de transporte marítimo MSC, com sede na Suíça.
Carga parada e incertezas
No Brasil, a maior parte do amendoim sai pelo Porto de Santos, no litoral paulista, e uma fatia pequena por Paranaguá, no Paraná.
O comércio se concentra no Sudeste, pois o estado de SP produz cerca de 93% das 700 mil toneladas de amendoim colhidas no ano, pelo país.
Uma empresa do município de Tupã, uma das principais cidades produtoras e exportadoras de amendoim, disse à TV Tem de Bauru na última segunda-feira (28) que está com quase 100 contêineres indo para a Rússia e mais 30 parados em Istambul, que teriam como destino a Ucrânia.
Outros 20 contêineres deixaram de ser embarcados por causa do conflito.
Conflito entre Ucrânia e Rússia prejudica exportações no centro-oeste paulista
Vizeu, da Câmara Setorial de SP, diz que ainda não sabe detalhar quantos contêineres com amendoim estão parados nos portos ou nas empresas brasileiras e nem quantos navios estão navegando.
“Mas o setor vai se reunir nesta quinta-feira (3) e, então, vamos saber quem está tendo problemas e o que vamos fazer. Todo esse acontecimento é uma grande incógnita para o setor, mas, com certeza, vai nos afetar de alguma forma, como no custo do frete e no preço [do amendoim]”, acrescenta.
Até o ano passado, a leguminosa passava por um bom momento no mercado de grãos. O preço da saca de amendoim em 2020 era negociado, em média, a R$ 84,78 no país, valor que subiu para R$ 96,52 em 2021, mas que recuou a um patamar entre R$ 65 a R$ 70 reais este ano, devido a um aumento da oferta.
Um dos temores dos produtores é de que o conflito possa desvalorizar ainda mais a cotação. Além disso, as empresas que já fecharam contrato estão com receio de não serem pagas por causa de sanções, como as que bloquearam dinheiro de russos em bancos internacionais.
O g1 procurou a Associação Brasileira das Indústrias de Chocolates, Cacau e Amendoim (Abicab), que disse que não iria comentar os impactos da guerra.
Ganhando espaço no mundo
No mundo, o Brasil é o quinto maior exportador de amendoim, atrás de Índia, EUA, Argentina e China, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Metade do que o país produz é exportado e o restante fica no mercado interno.
O “snack” brasileiro vem ganhando cada vez mais espaço pelo globo e chegou a ganhar impulso adicional em 2019 depois de uma queda na produção argentina.
“Há três anos, faltou amendoim dos argentinos e, então, a Rússia e outros países passaram a comprar cada vez mais o produto brasileiro”, diz Vizeu.
Além disso, o aumento dos padrões de qualidade do petisco nacional, nos últimos anos, tem feito ele ser bem aceito em mercados bastante rígidos, como a União Europeia.
Fonte: G1