Aos tropeços Gradiente tenta voltar ao PIM e sair da falência

Fábrica da Gradiente no DI, com sinais de abandono - foto: Correio

A empresa do ramo eletroeletrônico, Gradiente, está tentando empreender o seu retorno ao Pólo Industrial de Manaus (PIM), mas a sua volta vem sendo marcada por tropeços, com cobertura de mídia e campanhas publicitárias sem direcionamento e com uma linha de produtos da qual não tem tradição e nem domínio da tecnologia na sua integralidade.


A nova linha de produção anunciada pela Gradiente passa pela fabricação de painéis solares e lâmpadas de LED (Diodo Emissor de Luz). Até 2007, o forte da empresa era a fabricação de TVs e celulares, mas hoje, além de apresentar uma nova linha de produção sem tradição e domínio tecnológico, não existe sequer um projeto aprovado desses novos produtos na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

O último projeto da Gradiente aprovado pela SUFRAMA foi no ano de 2009, através de uma empresa denominada Companhia Brasileira de Tecnologia Digital – CBTD que foi criada para tentar salvar a marca e as dívidas da Gradiente, na época.

Fábrica da Gradiente no DI, com sinais de abandono – foto: Correio

Sem respeito aos trabalhadores do Amazonas

Em 2007, quando a Gradiente se retirou do mercado de eletrônicos no Brasil, por conta de uma série de dificuldades financeiras, por má gestão operacional e governança, deixou uma dívida de R$ 442,8 milhões, com 250 credores. A empresa abandonou 497 trabalhadores sem pagar a rescisão contratual e os direitos trabalhistas, forçando os empregados a entrarem com ações na justiça do trabalho para receber seus direitos junto à Gradiente, que recorreu a um lote de televisores embargado pela Justiça para pagar dívidas trabalhistas aos seus funcionários.

Repetição da história

Recentemente, nos dias 28 e 29 de junho de 2018, a história se repetiu. A Gradiente fez o anúncio de recebimento de currículos para emprego na empresa, no Distrito Industrial, fazendo com que milhares de pessoas de boa fé e desempregados corressem em busca de uma oportunidade de trabalho. Ao sair de casa as pessoas se sujeitaram a enfrentar uma fila gigantesca debaixo de forte sol, mesmo sem saber exatamente para quais funções se destinavam as vagas.

Ricardo Staub em Manaus, anunciando a tentativa de volta da empresa ao PIM – foto: Correio

Ao final de dois dias, foram 55 mil pessoas que entregaram os currículos e depois a empresa veio a público dizer que a notícia era falsa, num total desrespeito com a esperança do trabalhador e brincando com o povo amazonense.

O Decadência da Gradiente

A crise enfrentada pela marca Gradiente dura mais de duas décadas, afetada por fatores que vão da gestão da empresa à piora do ambiente concorrencial no setor eletroeletrônico nos anos 2000, quando desfez a parceria com a Nokia, que pagou à Gradiente 415 milhões de dólares. Parte deste valor foi usado pela empresa brasileira para quitar suas dívidas.

A compra da fabricante de TVs Philco, em 2005, marcou o ápice da derrocada e levou a empresa, que chegou a faturar mais de R$ 1,4 bilhão/ano a um prejuízo de R$ 224 milhões em 2007. O negócio é considerado pelo fundador Eugênio Staub como a principal causa da falência da empresa. Em 2007 vendeu a licença de uso da marca para a Britânia, por R$ 22 milhões.

Batalha judicial pelo modelo iPhone

Com o lançamento do modelo iPhone, a Gradiente iniciou uma batalha judicial com a Apple pelos direitos do nome no Brasil. A fabricante nacional protocolara no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), no início dos anos 2000, o registro da sigla usada para abreviar o modelo Internet Phone e teve a propriedade reconhecida em 2008.

Até agora, porém, a marca brasileira acumula duas derrotas na justiça. A próxima tentativa é um recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em sua fundamentação, o relator do processo no Tribunal lembrou que o nome iPhone foi consagrado no mercado pela Apple. Sendo mais uma derrota para a Gradiente em 2013.

Empresa do Passado

Aos 78 anos, Eugênio Emilio Staub, dono do negócio, dedica a maior parte do seu tempo a uma batalha para garantir que a trajetória da marca se sustente também no presente e não se atenha apenas às antigas cartadas que colocaram a companhia no rol dos principais nomes da indústria.

Nos próximos meses, Staub precisará de um fôlego extra para tocar uma nova virada no negócio, em busca de receitas que ajudem a reverter prejuízos acumulados na tentativa de reinserir os produtos Gradiente no mercado brasileiro.

Para um consultor, que prefere não se identificar. “O Eugênio Staub é um executivo do passado, acreditava em coisas que não existem mais.” Entre os principais erros, consultores citam a escolha por categorias sem domínio tecnológico, linhas de produção em decadência, produtos com baixa tecnologia e uma confiança demasiada no poder do nome e marca. As dificuldades não demoraram a aparecer: baixo volume de vendas, prejuízos e novas dívidas.

O que esperar do retorno desta empresa para o Amazonas, somente a busca pelos incentivos fiscais sem deixar dividendos e investimentos para o Estado. Com a palavra os diretores da Gradiente.

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