Arrogantes, militares do GSI encaminham a Lula suas “exigências” – por Denise Assis

General Augusto Heleno - foto: recorte/Metrópoles

“Numa atitude de arrogância plena, eles ditam regras e estabelecem as ‘condições’ para ‘criar um clima de confiança nos ‘destinos do país'”, diz Denise Assis


Não colou agora, como não funcionou no passado. O método, gasto e desbotado, usado pela ultradireita nos estertores da ditadura – quando oficiais do Centro de Investigações do Exército (CIE), tentaram explodir bombas durante um show do 1º de maio, em homenagem aos trabalhadores, para incriminar as esquerdas, atribuindo-lhes a autoria -, fracassou.

A bomba explodiu antes, matando um dos militares, o sargento Guilherme Pereira do Rosário, e ferindo brutalmente o seu colega, o capitão Wilson Machado. Tal como em 1981, agora também a tentativa de colocar no colo das esquerdas os atos de terrorismo perpetrados contra o hotel do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, na noite de sua diplomação no TSE (12/12), foi mais uma fake News do bando de fascistas que se recusam a deixar as portas dos quartéis, onde são protegidos pela leniência dos comandos, e com a conivência de um governo moribundo, que não só os incentiva, como os acolhe para lanchinho amigo nas dependências do palácio da Alvorada.

Mas se no passado os militares contaram com o acobertamento da cúpula do Exército e o ditador de plantão, desta vez o governo que os protege agoniza e o ministro indicado para a Justiça, Flávio Dino, atua em sintonia com o presidente do TSE e ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.

Não haverá anistia, garantiram

A afirmação foi feita depois da elaboração, pelo GSI que chega ao poder com Lula, de um documento que vai na contramão da política proposta por Dino e que vem sendo praticada por Moraes. Para deixar “tudo como está para ver como é que fica”, a turma do GSI manda para o governo que chega, a “letra” de que roteiro deverá seguir, se quiser paz na caserna, “inclusive os da reserva e os reformados”, destacam.

Numa atitude de arrogância plena, que só acomete aos que têm a certeza da força das armas, eles ditam regras e estabelecem as “condições” para “criar um clima de confiança nos “destinos do país” e garantir que “a democracia e o estado de direito” sejam “respeitados e que as Forças Armadas terão papel importante nesse processo histórico, motivando a todos os militares, da ativa e da reserva/reformados a participarem dessa jornada.”

Para que isto aconteça, indicam a “manutenção da Agência Brasileira de Inteligência subordinada ao GSI até a sua reestruturação”, que não detalham como será feita ou que cara terá.

Para que toda a “mudança” faça com que tudo permaneça igual, estabelecem um “cardápio” ao qual dão o título de: “Propostas Ao Governo Lula”. Daí por diante, tratam de desfiar suas “sugestões” nos seguintes termos: para começar, “aprovam” o ministro da defesa, descrevendo o seu perfil e saudando o seu nome.

“A escolha do Ministro da Defesa deve recair sobre um civil ou militar com bom trânsito político e bem aceito pelas Forças Armadas. Os militares não são contrários à indicação de um ministro civil, mas valorizam aquele que se comprometa e defenda os assuntos de interesse militar. Políticos de ideologia exacerbada, de qualquer matiz, também não são bem-vistos. A escolha do Ministro José Múcio está perfeitamente coerente com essa proposta e foi muito bem aceita pelos militares”. Aqui cabe a pergunta: e se não aceitassem?

Ditam que: “a escolha dos comandantes de Força deve ser feita observando-se o princípio da antiguidade. A escolha com base em listra tríplice apresentada por cada Força Armada também é muito bem-vista pelas Forças Armadas, mesmo que o escolhido seja o terceiro da lista. O respeito à indicação das Forças reforça a credibilidade nas instituições. Da mesma forma que a escolha do ministro, a escolha dos futuros comandantes atendeu perfeitamente essa proposta”.

Ou seja, se o ministro e os comandos lhe caíram no gosto, podemos prosseguir nos avanços e nas ousadias de suas “propostas”. Por exemplo: “Respeitar a cultura militar, caracterizada pelas tradições, crenças e valores militares”. Se alguém considerou que eles estão falando dos dogmas da “revolução de 1964”, achou absolutamente certo.

Mas não ficaram só nisto. No trecho a seguir, chegam a chamar de “cláusulas pétreas”, o que não é, pois cláusulas pétreas só estão contidas na Constituição Federal. Mas vamos lá:

“Determinadas áreas consideradas importantes (cláusulas pétreas) são anseios da coletividade militar e devem ser ressaltadas para as Forças Armadas, como:

– Ensino (como alterar currículo, se com isto deixam de repassar aos jovens a história da “revolução de 1964” e a cultura do anticomunismo?)

  • Sistema de promoções
  • Estatuto dos Militares
  • Lei de reestruturação da carreira militar e (cereja do bolo):

– Regramento jurídico, normativo e legal em vigor sobre as Forças Armadas. Foi uma difícil conquista desde 1985, passando pela Constituição de 88 (Sic), Leis complementares, Leis Ordinárias etc.; tudo está bem consolidado”.

Para quem não entendeu o que querem eles com o último parágrafo, sim, trata-se de um: não se atrevam a mexer no Artigo 142! Aquele, que serve de mantra para os acampados nas portas dos quartéis e foi imposto pelo general Leônidas Pires Gonçalves, aos constituintes, no final dos trabalhos da elaboração da Constituição de 1988.

E, para não os cansar com tantas exigências, cito mais esse ponto crucial das reinvindicações: “Manutenção no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sob chefia de um general do Exército, pela sua complexidade e interoperabilidade com os outros órgãos de governo (trocando todos os militares e civis dos cargos de chefia, direção e assessoramento). Ah! bom! Ainda bem que fizeram a ressalva…

E, por fim, mandam essa: “Um deslocamento do Governo das Forças armadas certamente levará a um ambiente de desconfiança e desunião, agravando o quadro existente e fortalecendo o bolsonarismo no meio militar”.

Qualquer semelhança com um quadro de chantagem, não é mera coincidência.

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Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

 

Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Veja, Isto É e O Dia. É autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964”; “Imaculada” e “Claudio Guerra: Matar e Queimar”. Integrante do Jornalistas pela Democracia

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