Besteirol começa em São Paulo

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Luiz Lauschner Escritor e empresário
Luiz Lauschner
Escritor e empresário

São Paulo é um estado onde começam algumas coisas boas, mas também muitas besteiras que depois são, invariavelmente seguidas em todo Brasil. Na primeira vez, numa demonstração de bom senso o governador daquele estado tinha vetado a lei que obriga aos restaurantes a cobrar menos das pessoas que fizeram operação de redução de estômago. Mas, nesse mês de julho, a pressão da Assembleia Legislativa levou a melhor e ele teve de ceder. Por essa lei, os bariátricos terão direito a redução no preço de até 50% em restaurantes no sistema rodízio ou a la carte.


Os restaurantes no sistema rodízio disponibilizam um ambiente que, em Manaus, precisa ser climatizado, além de estacionamento e outros confortos. O item “comida” é um dos componentes do custo e, pasme quem não é do ramo: nem sempre é o mais caro. A disponibilidade de espaço é a mesma para quem come muito ou não. Nos restaurantes que trabalham por cardápio, uma provável redução nas porções vai exigir um preparo extra, que anula qualquer efeito benéfico que a diminuição possa trazer. Ou se vai dizer ao cliente que jogue fora as sobras. É provável que, nesse caso, ele vá reagir assim: “Se vai jogar fora, deixe que eu levo as sobras pra casa”.

Por que o bariátrico escolhe um restaurante no sistema rodízio ou a la carte? Para acompanhar os amigos e familiares? Sim, porque se ele for sozinho e ocupar uma mesa para quatro vai se sentir mal em usufruir do desconto. Ou, pelo menos, deveria. Tenho amigos operados que simplesmente dizem: “Não vou ao rodízio porque não vale a pena”. Há restaurantes que sempre tiveram preço diferenciado para pessoas menores de 12 anos e preço zero para menores de 5 anos. Detalhe: crianças não vão sozinhas ao restaurante. Ainda não vi a regulamentação da lei para saber se a apresentação da carteirinha de bariátrico deve ser apresentada antes do pedido. Seria até hilário se ela fosse apresentada depois.

O Brasil e o mundo estão cheios de leis que protegem as minorias. Não raramente as leis criadas para dirimir diferenças acabam tendo o efeito totalmente inverso. Se alguém na situação prevista na lei for encaminhado a uma mesa menor ele terá direito a reclamar ou se sentir discriminado? Existe a lei do atendimento preferencial para pessoas com necessidades especiais, idosos ou gestantes. Um estabelecimento que colocar seis pessoas para atender os “normais” e uma só aos preferenciais estará cumprindo a lei. Contudo, no nosso Brasil que está envelhecendo estará discriminando em vez de ajudar. Basta ir a um banco ou casa lotérica para verificar que aquele que se dirige ao caixa preferencial é atendido com mais mora que outro.

A câmara de vereadores de São Paulo já havia aprovado uma lei que “não pegou” que obrigava aos restaurantes a colocar em circuito interno de TV imagens do que acontecia na cozinha. Não pegou porque os clientes não querem ver isso. Há uma lei federal que diz que todo cliente tem direito a adentrar na área de preparo dos alimentos. Raríssimos clientes exigem isso. Outras que tentaram desistiram ao serem obrigadas a trocar de calçado e usar touca. É como a lei do teste de combustível, nos postos. Se é ruim, o próprio motor do automóvel faz o teste.

Em alguns países da Europa, onde os espaços custam muito mais caro, já há diferença de preço para a bebida tomada no balcão ou à mesa. Lá, com certeza, uma lei dessas não seria promulgada.

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