Bolsonaro terá mais militares no governo que Castelo Branco em 1964

O presidente eleito Jair Bolsonaro inicia sua gestão com mais nomes oriundos das Forças Armadas do que o general Castelo Branco nos anos 60 - foto: Mais Goiás

Jair Bolsonaro (PSL) mandou um recado à classe política, rebaixada a cargos secundários, escolhendo a dedo um batalhão de militares para bater continência nos ministérios do próximo governo.


Quase um terço das 22 pastas do presidente eleito serão ocupadas por integrantes das Forças Armadas. O governo Bolsonaro terá mais ministros com formação militar no primeiro escalão do que o governo do general Castelo Branco (1964-1967), que inaugurou o ciclo de poder após o golpe de 1964.

O que torna o primeiro escalão de Bolsonaro diferente do dos demais presidentes militares e de parte dos civis, após a redemocratização, é a redução dos ministérios propriamente militares desde 1999. A antiga Casa Militar e o Serviço Nacional de Informações (SNI) foram extintos.

O presidente eleito Jair Bolsonaro inicia sua gestão com mais nomes oriundos das Forças Armadas do que o general Castelo Branco nos anos 60 – foto: Mais Goiás

No lugar deles, nasceu o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Depois, os ministérios do Exército, da Marinha e da Aeronáutica foram fundidos no Ministério da Defesa, que incorporou, ainda, o Estado-Maior das Forças Armadas (Emfa). Se a configuração do passado tivesse sido mantida até os dias atuais, o governo Bolsonaro chegaria a 11 ministros militares.

Especialistas ouvidos pelo Correio avaliam que a opção por militares pode ser explicada por duas razões: a primeira é que as indicações refletem o gosto pessoal do futuro chefe do Executivo, demonstrando parte do universo em que ele vive.

A segunda foi o recado à classe política, tratada com desdém por Bolsonaro, que vive criticando as negociações de cargos (o famoso “toma lá dá cá”), a corrupção e a “desordem”. Para eles, isso não significa necessariamente um risco de autoritarismo, mas pode indicar dificuldade nas articulações — já que os militares são mais acostumados à ordem que à barganha.

Abre-se, então, uma lacuna a ser preenchida pelo próprio presidente, que terá que intervir em decisões desconciliadas.

“Não há que se comparar militarismo com um governo cheio de militares. O tempo é outro, as questões são outras, e Bolsonaro foi eleito pelo voto direto. Isso o distingue do ciclo militar entre Castelo Branco e Figueiredo. Bolsonaro não foi eleito por ser um capitão do Exército.

Foi eleito, sobretudo, pelo antipetismo”, afirma o professor de história política e contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), Antônio José Barbosa.

Para ele, não se pode falar que é um governo militar, por mais ministros militares que se tenha. “Boa parte dos convocados receberam o convite por sua capacidade técnica.

O de Minas e Energia (almirante Bento Costa Lima Leite), que veio da Marinha, é altamente qualificado nesse setor. O astronauta (Marcos Pontes, futuro ministro da Ciência e Tecnologia), também, na área dele”, explica.

Prestígio do Exército

Para Arthur Trindade, ex-secretário de segurança do Distrito Federal e ex-militar, é necessário entender as Forças Armadas como corporação, instituição e grupo social. “São coisas distintas. Como grupo social, os militares vão ocupar muitos cargos porque é um governo vazio. Não é culpa do Bolsonaro.

Os partidos não têm quadros para mobiliar uma máquina”, ressalta. Nesse aspecto, Trindade diz que a expertise militar pode contribuir muito para pastas na área de infraestrutura. “Agora, vai causar mal-estar, porque não tem vaga para todo mundo. Isso pode gerar atrito interno”, diz.

Enquanto instituição, ressalta o especialista, o Exército conquistou um prestígio social a que não se assistia desde a década de 1970. “Isso está preocupando os militares, mas eles deixaram o Bolsonaro colar demais.

A instituição pode estar sendo posta em risco, porque tudo de ruim que ocorrer pode ir para a conta dos militares”, analisa.

Apesar disso, Trindade avalia que os integrantes das forças não foram enfáticos em cobrar um maior distanciamento de Bolsonaro e do governo. “Serão cinco generais no governo. Daqui a um ano, vai ter mais de 200 militares e vai ficar cada vez mais difícil desvincular a instituição.

Ainda no quesito institucional, o maior drama é quem ocupará o cargo de comandante do Exército com o general Augusto Heleno como ministro da Defesa e homem mais poderoso da República?”

fonte: Correio Brasiliense

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