
O Brasil está entre os dez países que tiveram secas consideradas mais severas. É o que aponte o estudo publicado na revista científica “Science”.
A pesquisa revelou que as mega secas – períodos de seca que duram pelo menos dois anos – têm se tornado mais frequentes, quentes e devastadoras ao redor do mundo nas últimas quatro décadas. “Essas secas prolongadas não são exatamente um ‘evento meteorológico’, mas algo que ocorre de forma mais sutil, ao longo de um período maior e em uma área mais extensa”, explicou o autor do estudo e pesquisador do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Nacional de Singapura, Simone Fatichi.
A Amazônia enfrentou um recorde de seca no ano passado, com um aumento de 2000% na área afetada por seca extrema. A pesquisa revela que a chamada Amazônia Sul-Ocidental, que abrange parte dos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, além de porções da Bolívia e Peru, enfrentou uma mega seca devastadora de 2010 a 2018.
Esta região figura como a 7ª mais grave do mundo no período estudado. No período, a seca prolongada causou o secamento de rios importantes como o Madeira, Negro e Solimões, que atingiram níveis historicamente baixos.
Comunidades ribeirinhas também ficaram isoladas quando os rios, que servem como principais vias de transporte e subsistência, se tornaram intransitáveis em vários trechos. Durante esses oito anos, a vegetação amazônica sofreu um estresse hídrico severo, aumentando significativamente a vulnerabilidade da floresta aos incêndios.
De acordo com o estudo, três fatores principais estão contribuindo para o agravamento das mega secas pelo mundo: o aumento das temperaturas globais, a diminuição das chuvas em regiões específicas e o aumento da evapotranspiração – o processo pelo qual a água é transferida da superfície da Terra para a atmosfera por evaporação do solo e transpiração das plantas.
Mas acontece que, apesar dessa resistência inicial, a redução das chuvas pode trazer impactos mais complexos para a região, como explica o meteorologista Fábio Luengo, da Climatempo. “A Amazônia depende fortemente da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e da presença da Cordilheira dos Andes. Esse corredor de umidade se desloca, encontra a barreira dos Andes e contribui para a precipitação na floresta. Há estudos que sugerem que, sem a presença da Cordilheira dos Andes, a Amazônia não teria seu atual perfil florestal e poderia ser uma região muito mais árida”.