Brasil na vida de um brasilino(Por Osiris Silva)

Economista Osiris Silva (AM)

Conversar, trocar ideias, criticar o governo, buracos de ruas, o trânsito caótico, o clima de violência que assola o país, e cada uma de nossas cidades, em particular, graves problemas que acometem hospitais, escolas, a guerra civil nas favelas, terra de ninguém. Estes são temas recorrentes e da preferência de interlocutores das mais diversas classes sociais. Dia após dia. Sai ano, entre ano.
Particularmente, quando se trata de motoristas de taxi. Nesse sentido chamou a atenção uma conversa com um deles em Curitiba dias atrás. Ele criticava os erros da justiça brasileira; a falta de seriedade, a lentidão, os privilégios cartoriais que beneficiam os ricos em detrimento dos pobres – a história de que só membros das classes socialmente inferiores vão presos, ricos nunca -, o crescente grau de corrupção que contamina instâncias do Poder Judiciário. E assim por diante.


Tais detalhes comparativamente ao padrão da justiça norte-americana, que passou a admirar e a respeitar desde quando começou a assistir, via Netflix, a uma série de TV cuja temática aponta o dia a dia de escritórios de advocacia e grandes processos criminais, tendo como locação a cidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Ponderei, cautelosamente, sobre a necessidade de um posicionamento firme da sociedade contra esse estado de coisas. O povo sair às ruas em protesto, combatendo os desmandos, os privilégios de classe que subjugam os desvalidos, recrudescem os desníveis sociais, por seu turno agravados pela baixa da qualidade do ensino, da saúde, da infraestrutura de saneamento básico, da segurança pública, e assim por diante.
– Não posso me envolver com os movimentos sociais, ele foi firme. Afinal, tenho 60 anos, tenho filhos e netos que dependem de mim. Por que vou me arriscar? Correr riscos para depois nada acontecer?

– Bem, disse-lhe, provocando um pouco sua reação, precisamos de qualquer maneira fazer nossa parte. Afinal, a sociedade depende de todos nós. Se não nos mexemos beneficiamos os corruptos, os desmandos do governo, as negociatas que se proliferam no Congresso Nacional.

– Enquanto isso, prosseguiu o taxista, o governo domina os ministros do Supremo, deputados, senadores, deputados estaduais, vereadores, desembargadores, juízes, conselheiros de tribunais de conta, membros do Ministério Público. Me, diga, senhor, para que serve um vereador? Em minha opinião para quase nada. Devia trabalhar como serviços relevantes, ou ir duas vezes por semana à Câmara de Vereadores, ganhando o equivalente ao salário de um professor do ensino médio. Quanto aos deputados estaduais, federais e senadores cortar de uma vez 60% de seus gastos mensais.

Empolgado com seu raciocínio, prosseguiu sua análise: – Viu os gastos extras dos senadores? O maior deles de uma senadora de seu estado, Vanessa Grazziotin. Que absurdo! Ou seja, fazem política com recursos públicos, que deveriam estar sendo empregados em obras essenciais na saúde e na educação, principalmente em favor dos mais humildes.

Prosseguindo, ele disse: – Conhece a praia de Caiobá aqui no Paraná? Está lotada com dois milhões de turistas em férias. O senhor acredita que, além de churrasco e cerveja, há alguém realmente preocupado com os problemas do Brasil? Não creio. Por isso meu temor em me expor abertamente, a tomar posições extremadas.

O taxi chegou ao meu destino. Estacionou, paguei a corrida e apertei a mão de meu interlocutor. Pensei com meus botões: – Que mente privilegiada, quanta serenidade e firmeza de posicionamento político. Raro de se ver. Raríssimo. Com palavras tão simples fez uma análise real sobre a péssima situação econômica e social em que se encontra o País. Sem expectativas claras de mudança.

Para complicar ainda mais a situação, veio-me à mente uma constatação extremamente inquietante. Enquanto no Canadá, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha, no Japão, na França a grande maioria dos jovens está estudando Shakespeare, Proust, Yates, Flaubert, Whitman, Schiller, Fernando Pessoa, Tolstoi, Joyce e Dostoievski; jovens alemães, dinamarqueses, italianos, chineses, coreanos do Sul e suecos frequentam museus e visitam obras primas da pintura e da escultura, conhecem Rodin, Picasso, Matisse, Gauguin, Toulousse Lautrec, Van Gogh, Monet, Ticiani, Degas, Salvador Dali e Da Vinci; ouvem Mozart, Beethoven, Schumann, Dvořák, Puccini, Verdi, Tom Jobim, Caetano, Pablo Milanés e Vinicius de Moras, expressiva maioria dos jovens brasileiros entregam-se a bailes funk, a mesas de bilhar, a dar tapas em baseados, a traficar drogas e a decorar nomes de jogadores de futebol do Corinthians, Cruzeiro, Fluminense, do Barcelona, Palmeiras, Grêmio ou do Flamengo.

Como, em tais circunstâncias, acompanhar a evolução mundial?

Diante de todo esse amontoado de insanidades e desmandos que o governo brasileiro vem cometendo em detrimento dos interesses nacionais, recordei de Roberto Campos quando afirmou: “A burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor.”

Não pode haver outra explicação.( Osiris Silva – Economista, Consultor de Empresas e Escritor)

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