Brasileiro não gosta de ler: um mito transponível

Brasileiro não gosta de ler: um mito transponível - Foto: Divulgação

O cabritinho Bebeu passeia nas nuvens [1] foi meu primeiro companheiro de cabeceira, isso por volta de 1986… quando eu tinha em torno de quatro anos. O livro conta a história de um pequeno animal inconformado com suas cercas: ele queria mais, queria ver o céu de perto! De 86 para cá, foram inúmeros os títulos e as aventuras que fizeram parte das minhas tardes chuvosas, das minhas férias e das minhas noites de leitura à luz fraca. Tantos anos e tantas linhas me levaram a contrariar um mito que me parece ser orgulhosamente difundido no país: brasileiro não gosta de ler!


O Instituto Pró-Livro aponta que o Brasil tem em torno de 95 milhões de pessoas que leem quatro ou mais livros por ano: leem porque querem, porque gostam, porque sabem, porque foram incentivados, porque compram livros, porque emprestam, porque ganham, leem porque sim! Em contrapartida, há 77 milhões de pessoas que não leem: não o fazem porque não gostam, porque não querem, porque não têm tempo, porque não sabem, porque não têm acesso. Não leem porque, culturalmente, foram talhados a acreditar que o livro e o ato de ler são menos importantes ou menos atrativos que outras formas de cultura ou de lazer.


Brasileiro não gosta de ler: um mito transponível – Foto: Divulgação

Cresci submersa nas narrativas orais de todas as noites na voz afável de mamãe e no mundo dos livros, ganhando uns de presente aqui, herdando outros de segunda mão ali… filha de pai mecânico e mãe dona de casa, me tornei professora e Doutora em Língua Portuguesa graças, em muito, ao inconformismo com a minha própria fazenda e em querer subir montanhas, assim como na narrativa de Bebeu que dizia: “Havia uma fazenda e o cabritinho Bebeu morava ali, na companhia de outros animais. O maior desejo de Bebeu era subir a montanha para ver o céu bem de perto…”.

Enquanto vamos subindo, é possível apreciar a beleza da aprendizagem do caminho e lá no alto da montanha [de livros] ver livremente o céu de perto e até brincar de descobrir desenhos em nuvens; vemos também um belo caminho a ser escrito com lápis e muitas palavras, ao lado dele os conformados que fazem ecoar os mitos de suas cercas, de que o mundo das letras é para poucos, por fim, formado pelos inconformados que insistem em pôr o pé na estrada, enxergando em Monteiro Lobato o norte: “Um País se faz com homens e livros”.

[1] De autoria de Celso Mathias, Marien Calixte E Milson Henriques

Autora: Professora Dra. Paula Reis Oliveira, coordenadora do curso de Letras do Centro Universitário Internacional Uninter.

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