Briga despolitizada – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

As instituições democráticas não estão falidas, mas o não cumprimento da promessa de acabar com as oligarquias, pelo menos no Brasil, tem fomentado um custo social que é a despolitização da sociedade civil. De que adianta instituições democráticas fortes se, ao cabo de tanto esforço, o poder acaba sendo restituído às mesmas bases e fontes oligárquicas? Só adianta para dizermos que é melhor a pior democracia que o melhor totalitarismo. Isso estamos presenciando agora com a briga dentro do partido do Presidente da Republica. É provável que a responsabilidade recaia sobre os partidos, uma vez que eles lucram com a estabilidade democrática, mas duvido que esse argumento seja de todo capaz de convencer a quem quer que seja.


Os partidos também nunca conseguiram cumprir a promessa de fiéis representantes de causas e programas de transformação da sociedade e não parecem estar comprometidos com a ampliação das instituições representativas. O que temos sempre entre nós, onde houver democracia ou não, é a predominância de personalidades autoritárias coordenando o cenário político e social em nome de uma percepção distinta da realidade. Nada disso parecendo verdadeiro, a ponto de haver uma insatisfação com personalidades, partidos e com o próprio sistema democrático, que passa a ser visto como parte sujeita a manobra pelo Estado e esse controlado pelas oligarquias.

Mesmo partidos que sempre existiram e sustentaram sua existência sob princípios sociais e econômicos em nome da representatividade coletiva se veem olhando para si e praticando, não apenas o culto à personalidade – como necessitam aqueles que se chamam de carismáticos -, mas o culto à personalidade autoritária – como precisam parecer aqueles que querem chegar ao poder executivo. Cultuar personalidades autoritárias, excludentes, é o inverso do que o sistema democrático prometia. Assim, se a democracia não conseguiu acabar com as oligarquias, se os partidos não conseguiram representar as orientações e expectativas latentes na sociedade, se a sociedade civil não tem o poder de organização, legitimação e reticência ao Estado, se, no fim de todos os processos de escolha democrática, somos levados a decidir por personalidades autoritárias e atribuir a elas poderes divinos ou imperiais, se os próprios candidatos não se veem diferente disso, as promessas de um novo pacto social podem parecer mínimas e distantes.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

É por isso que eu gosto da ideia de gestão participativa. Ela pode parecer nova e desajeitada, pode até parecer insignificante diante da necessidade dos técnicos estatais de justificarem a ciência nos assuntos públicos, mas é oxigênio nas instituições democráticas. Não vejo como o Brasil possa entrar numa década de resultados sociais se as instituições democráticas não se estenderem até o cidadão mais simples que nem se aceite ou se reconheça como cidadão. Antes, precisamos dizer: chegar de marketing. A peleja no horário eleitoral sobre quem vai gerar mais empregos é um espetáculo de encenação desprezível que, tenho de reconhecer, vai dar para aquele que parecer mais convincente o cargo de mandatário. Todo cidadão sabe que políticos prometem. Todos votamos acreditando que a nossa preferência por esse e não por aquele se dá em função de sua capacidade de liderança e controle da situação e dos processos. Não votamos em um grande negociador ou articulador que seja parte de um plano de continuidade democrática portanto, com dias contados -, mas votamos em figuras que são vestidas como czares, imperadores, generais, os redentores.

Eu não sei se todos entre nós sabem, mas não há governo que não seja produtivista, que não prometa solucionar em pouco tempo todos os males e conflitos da sociedade. Quem votaria em gente que diz: vamos com calma, precisamos de tempo e precisamos de sua participação? A sociedade é algo que não para e tem sempre coisa por fazer. Não dá mais para pensar em Estado poderoso e empregos para todos, em soberanias nacionais prepotentes e fechadas, mas os discursos permanecem os mesmos de sempre e ainda há aqueles que querem deixar as necessidades sociais para uma década mais favorável, como se pudéssemos passar mais uma temporada sem alguma coisa de muito importante para todos nós.

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