Bumbás, Tupinambás, Sateré-Mawés e outros parentes – por Joaquim Frazão

Foto: Divulgação

Política não é uma ciência exata, mas a arte de parlar e convencer. Isso exige o dom da paciência. Mas, isso não basta, é talento e inteligência para assimilar os traquejos da arte. Porém, seu exercício não é para todos, apenas, os sabiamente preparados podem exercê-la com sensatez.


Pois bem, na eleição de 2022 o atual Governador sofreu duas derrotas consideráveis, uma em Parintins e outra em São Gabriel da Cachoeira. Os dois fatos foram marcantes, do ponto de vista eleitoral, porém, no caso de São Gabriel, sua relevância foi relativa. Mas, por outro ângulo, é de fácil constatação que, do ponto de vista político e estratégico, o maior revés foi em Parintins. Mas, em política sempre se olha para o futuro e, nessa perspectiva, tem lógica os traquejos do Governador Wilson Lima dedicando-se inteiramente à Ilha dos bumbás Garantido e Caprichoso.

É inegável que o Governador Wilson Lima tem ciência da importância política e cultural da terra dos tupinambás para além fronteiras, afinal o espetáculo dos dois bumbás mostra ao Brasil e ao mundo a beleza do folclore parintinense. O mandatário sabe que, para o bem de Parintins, esse processo que evolui ano a ano precisa continuar e para isso, o apoio do Estado e da mídia é fundamental. Este ano, por exemplo a mídia nacional fez da cunhã poranga, Izabela Nogueira, a celebridade nacional, que a um só tempo e maestria, divulgou nacionalmente o evento folclórico e Amazonas. Fato como esse deve continuar, Parintins e o Governo do Estado não devem deixar a peteca cair, como diz a sabedoria popular. O Governador, ao declarar que “O ciclo do Bumbódromo já chegou ao fim”, sinaliza que investimento ao projeto não vai faltar.

Foto: Recorte

De fato, a promessa é importante pois, uma vez efetivada será um ponto positivo para melhorar o turismo regional e ajudar na preservação de nossa floresta, há tanto cobiçada. Nada obstante, à jura do Governador, torcemos pelo sucesso dos bumbás e de Parintins no extremo leste do Estado, a 369 Km da Capital, em linha reta, 485 Km, por via marítima e a 50 minutos de vôo. Parintins, com PIB é R$ 1.024 890,41, renda per capita R$ 9.092,68 e IDH 0,658 o qual, com seus 115.363 habitantes (2020), merece mais investimentos do Estado. Entretanto, em que pese a determinação do Governador em relação a Parintins, onde estão assentados, entre outros, os índios tupinambás e Sateré-Mawés, estes exaltados nos três dias do festival, é preciso olhar além e ampliar o leque de investimentos envolvendo a outra perna do Estado para este não ficar “manco”.

Referimo-nos ao noroeste do Estado, onde fica São Gabriel da Cachoeira, a 862 Km da Capital, em linha reta, a 1.697 Km, Rio Negro acima, a 7 dias de embarcação carregada. Com 52.000 habitantes, PIB de R$ 329.147,16, per capita em R$ 7.344,41 e IDH de 0,609, SGC precisa de apoio do Estado para resolver problemas que afligem sua população, em especial no quesito moradia, também o sistema viário da sede precisa ser corrigido. No campo da cultura, sua maior quadra é o Festribal, que acontece no mês de setembro e precisa ser incentivado para se preservar a cultura indígena original.

São Gabriel não pode ser esquecido pelo marco das fronteiras, pois o sangue que corre nas veias dos Tupinambás e Sateré-Mawés é o mesmo que corre nas veias de seus parentes das 23 etnias de SGC. Com efeito, o Estado precisa olhá-lo como uma parte sua essencial. O município merece ação governamental que tenha em vista erradicar a pobreza, reduzir a desigualdade social e regional, e a promoção do bem de todos, como preconiza nossa República.

Joaquim Frazão é advogado popular, especialista em direito sindical, bacharel em filosofia e pós graduado em ciência política, defensor das causas individuais.

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