
Estamos recebendo nesta semana um ilustre visitante. Não é apenas uma visita protocolar de um ministro ao maior estado da Federação. A vinda do professor Camilo Santana ao Amazonas tem a força simbólica de um reencontro entre irmãos de jornada. Trata-se de um filho do Ceará — estado que tanto inspira a Amazônia em termos de gestão pública, indicadores educacionais e mobilização social e geração de riqueza no Ciclo da Borracha — vindo ao encontro da floresta, não como estranho, mas como aliado natural.
Ministro, o senhor pisa em solo generoso e ferido. Esta terra que já sediou a primeira universidade do Brasil, que foi a primeira a ter luz elétrica e telefonia na Amazônia, que sustentou o país com a borracha e segue contribuindo com o equilíbrio climático e a arrecadação federal, permanece, no entanto, às margens da atenção pública que merece.
Não é vitimismo. É estatística. Somos responsáveis por mais da metade dos tributos federais recolhidos em toda a região Norte. E, mesmo assim, convivemos com mais de uma dezena de municípios entre os piores indicadores de desenvolvimento humano do país.
A Zona Franca de Manaus, pilar industrial da região, é constantemente atacada por desinformação, como se aqui houvesse um privilégio indevido. Mas a realidade, senhor ministro, é que a nossa renúncia fiscal é infinitamente menor do que a renúncia em nome de outras regiões e setores. E, ao contrário do que dizem, nossas empresas recolhem muito mais do que a maioria da Faria Lima.
É por isso que a sua visita ganha contornos históricos. O senhor traz consigo a experiência de um estado resiliente e inteligente, que mesmo com limitações, alcançou índices educacionais que fazem inveja a todo o Brasil. Que o Ceará sirva de inspiração não apenas como um exemplo a ser admirado, mas como um modelo a ser adaptado e integrado às realidades amazônicas — múltiplas, ricas, desafiadoras.
Não viemos apenas pedir. Viemos oferecer. Oferecemos a Amazônia como escola de futuro. Aqui está a mãe das águas, a guardiã da chuva que irriga o Sudeste e o Centro-Oeste. Aqui pulsa a possibilidade real de um país equilibrado, verde, justo. Temos vocação para a sustentabilidade, para a bioeconomia, para a ciência que cura com princípios naturais e cosméticos que imitam a polinização. Somos a fronteira viva de uma nova prosperidade — e a educação é a chave que pode abrir essas portas.
Ministro Camilo, o senhor não é apenas cearense: é um dos nossos. Um brasileiro comprometido com o país profundo, que pede menos discursos e mais alianças. Por isso, seja especialmente bem-vindo. Que sua presença seja o prenúncio de compromissos concretos, de políticas duradouras e de um pacto federativo que reconheça a floresta em pé como valor estratégico.
Nos ajude a convencer o Brasil de que a Amazônia não é problema, é solução. Nos ajude a mostrar que, além da fibra cearense que nos irmana, é preciso gritar bem alto: somos todos Amazônia.
Yara Amazônia Lins – Conselheira Presidente do Tribunal de Contas do Amazonas