Candidatos apostam tudo no horário eleitoral – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

E fazem muito bem, porque depois de 30 de outubro é que a onça vai beber água. Quem duvidar está convidado a ler texto de Robinson Borges publicado no caderno do Valor Econômico de sexta-feira a respeito do estudo “Política e Opinião Pública”, do Iuperj, coordenado pelo cientista político Marcus Figueiredo. Baseado nas eleições anteriores e na evolução das pesquisas de opinião pública divulgadas nesta campanha, ele conclui que a sucessão presidencial só será decidida ao longo do Horário Eleitoral Gratuito e Obrigatório na televisão e no rádio.


Anote aí duas conclusões lógicas de Figueiredo: “O horário gratuito é fundamental para decidir as eleições. Na história das últimas campanhas, até o início dos programas na TV, 55% das pessoas não sabem responder em quem vão votar espontaneamente. Neste ano, o índice aumentou. É atrás dessa imensa maioria que os programas televisivos dos candidatos vão correr.” “Mais da metade das pessoas que declaram intenção de voto hoje dizem que poderão mudar de candidato após a propaganda. Nada está decidido e todos querem persuadir os eleitores.” Aliás, seu colega Marcos Coimbra, do instituto Vox Populi, já havia alertado para isso. Quer dizer, então, que Lula não é favorito nem Bolsonaro está em apuros? Devagar com o andor, que esses santinhos são todos de barro (nesta hora, o melhor é rezar para Jesus Cristo, que é santo grande). Há algumas outras boas razões lógicas para acreditar que as tendências que se firmam antes da largada da televisão e do rádio possam se confirmar depois dela.

Primeira: esta tem sido uma campanha atípica, não porque o favorito se mantém no topo e o outro está no segundo lugar, o que resulta principalmente da exposição de cada um deles na televisão, mas porque, apesar das draconianas regras censórias da Justiça Eleitoral, o telejornalismo conseguiu romper o cerco e expor os candidatos um passo além do que permitem seus marqueteiros. Refiro-me, é claro, às entrevistas dos líderes que vão fazer no Jornal Nacional, da Globo, elas não deixarão de ser excelentes oportunidades para o eleitor manter contato com as pessoas que disputam a Presidência da República, e não com seus clones aperfeiçoados pelos marqueteiros. Isso os leva a já se posicionarem de saída nos programas gratuitos a respeito de temas de interesse do eleitor e força seus marqueteiros a não apelarem apenas para o discurso “choraminguento” do gênero “Esta é sua vida”.

O vaivém das candidaturas no ranking permite aos partidos e seus chefões regionais aderirem àquele que lhes parece mais próximo de ganhar o torneio. Caiado que estava prestes a cair nos braços de Lula, atirou-se nos de Bolsonaro, acompanhado por Zema e Claudio Castro, sinalizando uma tendência que pode engrossar o pirão do carioca, e tornar o mingau de Lula cada vez mais aguadinho. O tempo de que dispõe cada candidato que é o mesmo agora para o segundo turno, terá influência decisiva sobre seu desempenho nas urnas. Isso não quer dizer que automaticamente quem dispuser de mais mentira chegará à frente no turno final. Dependendo do candidato, excesso de ataques e mentiras lhe poderá ser fatal: o talento dos marqueteiros é imenso, mas ainda assim insuficiente para tornar Bolsonaro mais atraente.

O uso inadequado do PT poderá tornar os 10 minutos de Lula a catapulta definitiva para a vitória ou a pá que o afundará na terra de ninguém. É certo, pois, que até agora nada se definiu, como ocorria neste período do ano nas eleições anteriores, mesmo Lula a frente. A política, lembrava Magalhães Pinto, compara-se com as nuvens que formam no céu uma determinada figura para, no instante seguinte, formar outra. A comparação é excelente, porque, na verdade, os responsáveis pela ilusão de ótica não são as nuvens que formam as figuras, mas os olhos dos humanos fitando o firmamento. Dependerá de nós, de nossos humores, de nossas idiossincrasias, decidir essa parada. E aí é que está a graça do jogo na comunicação: não importa o que eles nos dizem, mas, sim, como nós os ouvimos. Oba!

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