Cármen não precisa ser grata, basta ser justa – por Ribamar Fonseca

Já se conhece a posição da ministra Carmen Lucia sobre a prisão após a condenação em segunda instância.

Já prenderam o Paulo Preto, operador dos tucanos, flagrado com mais de R$ 100 milhões em bancos suiços? Não?? Por que, então, querem prender o ex-governador baiano Jacques Wagner por suspeita de ter se beneficiado de superfaturamento? Por que o Rocha Loures, flagrado com uma mala contendo R$ 500 mil, está solto? Por que o coronel Lima, acusado de operador de Temer, não atende às notificações da Policia Federal para depor e não é conduzido coercitivamente? Nem preso? Por que João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, continua preso mesmo absolvido em outras instâncias por absoluta falta de provas? Por que o juiz Sergio Moro se nega sistematicamente a tomar o depoimento do advogado Tacla Durans e de Vaccari Neto, conforme solicitação da defesa de Lula? Nem é preciso perguntar por que querem prender o ex-presidente, a cereja do bolo da festa da Lava-Jato, que só está esperando ver o líder petista atrás das grades para desativar-se. Lula, afinal, é a razão de viver da Lava-Jato, não o combate à corrupção.


Essas perguntas, obviamente, nunca serão respondidas por quem de direito, mas não será difícil pelo menos explica-las com uma só frase: os presos e caçados são petistas e os blindados são tucanos ou ligados a Temer. Nem na ditadura militar o Partido dos Trabalhadores foi tão perseguido como agora, pela ditadura da Toga, que rasgou a Constituição e maneja as leis para atingir objetivos políticos.

Já se conhece a posição da ministra Carmen Lucia sobre a prisão após a condenação em segunda instância.

A perseguição do Judiciário a Lula e aos petistas é tão rotineira e escancarada, evidenciando a total ausência de pudor de magistrados inclusive da Suprema Corte, que ninguém mais se espanta.

Passou a ser vista com naturalidade, como se caçar pessoas acusadas sem provas fosse um procedimento normal da Justiça. Até porque a imprensa, que deveria denunciar os abusos, é a primeira a aplaudir e estimular o comportamento persecutório de juízes e procuradores, acentuando o clima de ódio que se instalou no país, onde se implantou um estado policialesco. Prender alguém por mera suspeita ficou tão fácil que ninguém mais tem segurança neste país.

Na verdade, hoje ninguém precisa cometer qualquer crime para ser perseguido ou preso no Brasil, basta ser filiado ao PT. Se for um potencial substituto de Lula na sucessão presidencial então entra imediatamente na mira de procuradores, de juízes e da Policia Federal.

É o caso do ex-governador Jacques Wagner, que chegou a ser citado como provável candidato ao Palácio do Planalto caso Lula seja impedido de concorrer, o que lhe custou uma operação de busca e apreensão em sua casa.

A PF chegou, inclusive, a pedir a sua prisão sem qualquer justificativa, razão porque foi negada por magistrados mais sérios. O ex-prefeito paulista Fernando Haddad, antes de Wagner, foi alvo de investigações e do bombardeio da mídia pelo mesmo motivo, ou seja, por ter seu nome aventado como possivel substituto do ex-presidente.

Diante disso, se Lula for realmente impedido de concorrer, o PT deve deixar para anunciar o seu candidato no último minuto do prazo legal, o que não impedirá a ação dos seus adversários mas dará a eles menos tempo para tentar atingir o provável candidato.

Enquanto isso a presidenta do Supremo, ministra Carmen Lúcia, se esconde para evitar ser abordada por jornalistas ou encontrar-se com o ex-ministro Sepúlveda Pertence, novo advogado de Lula, que lhe pediu uma audiência e não recebeu resposta.

A ministra, obviamente, não quer tratar da questão da revisão da prisão em segunda instância, recusando-se a colocar o tema em pauta do plenário da Corte Suprema para, desse modo, permitir a prisão do ex-presidente. Provavelmente somente depois que o líder petista for preso é que ela reaparecerá, talvez até pautando a questão, porque já terá sido atingido o objetivo dos perseguidores de Lula: a sua humilhação, com algemas e correntes, exibida no “Jornal Nacional”.

A atitude da presidenta do Supremo deverá servir de alerta para os futuros presidentes da República, que precisarão ter mais cuidado na nomeação dos futuros ministros do Supremo Tribunal Federal, para que não escolham ingratos. Carmen foi nomeada por Lula, que só precisaria que ela fosse justa, não necessariamente grata.

Enquanto a perseguição ao líder petista chega às raias do absurdo, inclusive por quem tem o dever de fazer justiça, a Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, nega a quebra dos sigilos de Temer, que a nomeou – essa, sim, sabe ser grata – e pede o arquivamento de duas sindicâncias contra o governador paulista Geraldo Alkmin.

Enquanto caçam Lula, condenado com base em mentiras do delator Léo Pinheiro que foi desmentido por mais de dez testemunhas, Paulo Preto, acusado por dez delatores, continua livre, leve e solto, porque a sua prisão fatalmente envolverá os emplumados José Serra, Geraldo Alkmin e Aloysio Nunes. Os tucanos, é fácil perceber, continuam muito bem blindados.

Pelo visto, essa situação vergonhosa só terá fim quando for feita uma faxina completa no país, limpando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário dos frutos podres que ameaçam contaminar todo o corpo dos três poderes. Quando e como isso será feito não se sabe, mas o Brasil precisa livrar-se desses maus brasileiros, traidores da Pátria, verdadeiros predadores, que envergonham os homens e mulheres de bem que amam este país. A solução bem que poderia vir de cima, tal como aconteceu com Sodoma e Gomorra.

*Ribamar Fonseca é jornalista e escritor
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