
Dublin, 20 jan (EFE).- Centenas de menores sofreram abusos físicos e psicológicos em centros administrados pela Igreja Católica e por organismos estatais na Irlanda do Norte durante o século passado, revelou nesta sexta-feira um relatório oficial.
A chamada investigação sobre Abusos Institucionais Históricos (HIA) examinou durante os últimos três anos 493 testemunhos para confirmar que existiram abusos físicos, sexuais ou emocionais de menores entre 1922 e 1995 em 22 instituições da nação que faz parte do Reino Unido.
Durante a apresentação de suas conclusões em Belfast, o responsável pelas pesquisas, o juiz aposentado Anthony Hart, afirmou que os abusos foram “sistemáticos” e “variados” em muitos desses centros.
O documento, de 2.300 páginas, detalha, por exemplo, as denúncias apresentadas por 189 ex-residentes de quatro instituições administradas pela Ordem das Irmãs de Nazaré, onde algumas freiras cometeram “abusos físicos e emocionais” e “atos humilhantes e degradantes”.
Em outro centro administrado pela Ordem de la Salle em Belfast, os menores sofriam “castigos físicos excessivos” e eram vítimas de “agressões físicas”, destacou o investigador.
Algumas crianças, disse, eram, frequentemente, humilhadas e obrigadas a tirar suas roupas e permanecer durante longos períodos nuas.
Na escola de formação profissional Rathgael de Bangor, nos arredores de Belfast, Hart constatou que as meninas internas sofriam “castigos corporais” e algumas foram vítimas de abusos sexuais cometidos por funcionários do centro.
Em relação aos centros administrados pelas Irmãs do Bom Pastor na capital norte-irlandesa, Londonderry e Newry, o ex-juiz afirmou que foram cometidas “práticas inaceitáveis” com as meninas, às quais se obrigava, por exemplo, a trabalhar em lavanderias.

O governo norte-irlandês, de poder compartilhado entre protestantes e católicos, anunciou em 2012 o estabelecimento desta investigação depois que outras feitas na vizinha República da Irlanda revelaram nos últimos anos que milhares de crianças sofreram abusos sexuais, físicos e emocionais desde o começo do século XX.
Os tribunais estabelecidos pelo Executivo de Dublin também denunciaram as práticas adotadas pelas autoridades do país e pela Igreja Católica irlandesa para esconder os maus-tratos e proteger os religiosos pedófilos.
Neste sentido, Hart denunciou hoje os erros cometidos na hora de proteger os menores pela Diocese de Down e Conor (na Irlanda do Norte), pelo Ministério do Interior e pelas autoridades locais e regionais, entre outros.
O investigador louvou a “coragem e valor” demonstrado pelas vítimas para reviver o horror de suas experiências e, entre suas recomendações, insistiu que devem receber uma compensação por parte das autoridades.
Em relação às medidas que poderia tomar o Executivo norte-irlandês perante as conclusões do relatório, as vítimas terão que esperar para que se resolva a crise de governo criada pela renúncia há duas semanas do vice-primeiro-ministro, o nacionalista Martin McGuinness.
Sua saída provocou a queda do Executivo de poder compartilhado e Londres convocou eleições regionais antecipadas para o dia 2 de março.
Fonte: UOL