Chegamos ao fim do livro

Luiz Lauschner Escritor e empresário

Até a algumas décadas, os ávidos leitores de romances competiam entre si para saber quem lia mais livros, quem conhecia mais autores, quem sabia mais sobre lançamentos de novas obras. Esse interesse está definhando a olhos vistos e tende a desaparecer em pouco tempo. Quando se dizia: “cheguei ao fim do livro” queria se dizer que acabara de ler a última página dele. Hoje, o próprio livro chega ao seu fim. Ou não?


No aeroporto de Guarulhos, possivelmente o mais movimentado do Brasil existem duas livrarias. Uma, a La Selva, no Terminal 1 e a Livraria Saraiva no Terminal 2. Nem mesmo bancas de revistas e jornais sobrevivem aos altos custos dos aeroportos e a baixa procura. Detalhe: cada terminal tem vários quilômetros de extensão se forem considerados os diversos pisos e as “asas”. As livrarias são pouco visitadas por compradores de romances, mas por interessados em revistas ou joguinhos de passatempo. A onipresente Saraiva tem o péssimo hábito de não pagar as pequenas editoras nem aos escritores que deixam lá seus livros em consignação. Os autores, que vendem poucos volumes, não têm interesse em denunciar a livraria que não os paga, porque preferem o referencial dela por receio de sofrer um bloqueio geral.

O caminho que um autor percorre até conseguir publicar sua obra é, na maioria das vezes, longo e penoso. Depois de conseguir “expor” seu trabalho numa livraria de renome, não vê a cor do dinheiro, embora tenha assinado um detalhado contrato onde a livraria se compromete a repassar mensalmente metade do valor da venda de balcão de cada livro. A pilha de livros, na livraria, vai diminuindo até terminar o último volume e o autor não recebe o valor correspondente. Não é um tratamento isolado para um ou outro autor, nem de uma ou outra loja. É um procedimento que a Saraiva pratica como padrão.

A literatura impressa já não tem muitos interessados que migraram para a internet, principalmente. A cultura, de um modo geral e a literatura em particular, recebe um tratamento que em nada estimula alguns persistentes escritores. Livrarias como a que falamos, contam com a falta de organização entre os poetas e escritores para continuarem a praticar seus crimes contra a cultura. Seria bom que o próprio Ministério da Cultura se interessasse por isso.

Os livros impressos não são os únicos a sofrerem com a mudança dos tempos. Mudanças de comportamento sempre existiram e isso é positivo. Os romanos já diziam: “Tempora mutantur et nos mutamus in illis” (Os tempos mudam e nós mudamos com eles). Nem sempre as mudanças são indolores. Cartas manuscritas, enviadas pelo correio, quase não existem mais. A crise nos jornais e revistas impressos não nos deixa mentir. Não existe uma mudança, mas uma dinâmica ágil que faz com que grandes organizações jornalísticas não consigam adaptar-se a tempo. Jornais distribuídos gratuitamente não têm muitos leitores.

Contudo, chegar ao fim do livro ainda é o objetivo de muitos leitores de histórias escritas aqui ou lá fora. Os livros têm a grande capacidade de nos transportar para lugares e situações que não vivenciaríamos de outra forma. Assistir a um filme sobre algum livro que já tenhamos lido, muitas vezes nos frustra porque nossa imaginação criou imagens mais reais que os produtores de filmes. Lamentamos a agonia do livro e gostaríamos muito que, como em alguns romances, o final não fosse trágico e sim acenasse para uma continuidade da história. A escrita a mão cedeu lugar à máquina que cedeu lugar ao computador. O que vem aí pode substituir com vantagem o bom e velho livro de cabeceira?

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