Os cientistas trabalham agora no desenvolvimento de uma planta com ciclo precoce e capaz de produzir pelo menos três vezes mais que as variedades encontradas no mercado.
O feijão-de-corda (Vigna unguiculata), também conhecido como feijão-caupi e macassar, possui inflorescência simples, com apenas uma vagem por pedúnculo. O objetivo dos pesquisadores com o melhoramento genético é obter uma planta com múltiplas vagens, ou de inflorescência composta, característica de leguminosas de alta produtividade como soja, feijão comum e grão-de-bico, que possuem de quatro a oito vagens por pedúnculo.
O estudo abre caminho para uma revolução no cultivo do feijão-de-corda e está na fase final de seleção de linhagens para que sejam conferidas a produtividade e adaptabilidade delas em diferentes regiões do País. A ideia dos cientistas é reduzir agora o comprimento do pedúnculo da planta, dando mais fôlego para ela desenvolver vagens, grãos e apresentar bom porte.
“Esperamos triplicar a produção com essa nova tecnologia”, acredita o pesquisador da Embrapa Meio-Norte (PI) Maurisrael Rocha, informando que uma das oito metas de inovação tecnológica do Centro de Pesquisa até 2030 é contribuir para um aumento de 50% nas exportações da leguminosa.

Os primeiros caupis com inflorescência composta
Tudo começou em 1974, no município de Quixadá, no sertão do Ceará, a 167 quilômetros de Fortaleza. Em um trabalho de campo com alunos do curso de agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor José Braga Paiva identificou cultivares crioulas (sementes tradicionais selecionadas por várias décadas pelos agricultores tradicionais) com inflorescência composta. Ele coletou o material e levou para o banco de germoplasma da universidade.
Em 1978, durante uma visita ao município de São Miguel do Tapuio, a 190 quilômetros ao norte de Teresina, o então pesquisador Antônio Gomes, da Embrapa Meio-Norte, identificou também cultivares crioulas de feijão-de-corda com inflorescência composta. “Nas primeiras avaliações, elas apresentaram ciclo de maturação longo, porte com ramos longos e boa produtividade”, lembra o pesquisador Francisco Freire Filho, que hoje atua na Embrapa Amazônia Oriental (PA).
De 2006 a 2007, o pesquisador Francisco Freire Filho começou, em Teresina, o primeiro ciclo de cruzamentos com a cultivar crioula Cacheado roxo, de ciclo médio, porte semiprostrado e inflorescência composta; e as linhagens AU94-MOB-816 e TVx5058-09C, que tinham ciclo precoce, porte ereto e inflorescência simples.
Feijão exportado para 68 países
Em 2018, o Brasil foi mais longe nas exportações de feijão em geral, alcançando 68 países com 162,4 mil toneladas, segundo o Ministério da Economia. O faturamento foi de US$ 91,6 milhões. Os países que mais importaram o nosso feijão foram a Índia, Vietnã, Paquistão, Egito e Venezuela.
Pelo menos 85% dessas exportações são de feijão-caupi e originários de cultivares desenvolvidas pela Embrapa. Segundo ainda dados do mesmo ministério, em 2017 as exportações de feijão feitas pelo Brasil somaram 122,5 mil toneladas, com um faturamento de US$ 80,1 milhões.
Em 2018, a produção de feijão no País quase alcançou a marca de três milhões de toneladas.
Segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram produzidas 2,973 milhões de toneladas em uma área colhida de 2,980 milhões de hectares. O Centro-Oeste, Nordeste e Norte continuam sendo as regiões que mais cultivam o feijão-caupi.
Fonte: Embrapa Meio-Norte