Buscando solucionar problemas de mobilidade autônoma de crianças com paralisia cerebral, cientistas de Campinas (SP) desenvolveram um dispositivo de baixo custo capaz de “robotizar” qualquer tipo de cadeira de rodas. O g1 conheceu de perto a tecnologia, que ainda não foi disponibilizada ao mercado.
Para que a cadeira funcione, há a junção de um minirrobô a uma plataforma motorizada. A movimentação ocorre por meio de dispositivos plásticos chamados de acionadores, pequenos aparelhos sensíveis ao toque que podem ser instalados na parte da cadeira à qual o usuário tenha acesso mais facilmente, como a região da cabeça ou das mãos, por exemplo.
“O objetivo do robô era transformar qualquer cadeira de rodas, seja ela motorizada ou não, qualquer uma do mercado, em uma opção para funcionar com acionadores. O custo de adaptação seria muito menor, porque hoje em dia uma cadeira de rodas que aciona com o movimento da cabeça tem um custo muito alto”, explica o engenheiro Rafael Domingues.
De acordo com os pesquisadores, o custo de produção da plataforma gira em torno de R$ 1 mil. Já o minirrobô, que inclui um motor, parte elétrica, bateria e impressão 3D, custa em torno de R$ 360.
Democratização de recursos
A equipe responsável pela criação do dispositivo foi reunida pelo Instituto Nossa Casa, uma instituição brasileira dedicada ao conhecimento científico sobre paralisia cerebral e AVC infantil, com o objetivo democratizar o acesso a recursos de mobilidade motorizada. A plataforma foi desenvolvida junto à turma de um curso de extensão da PUC-Campinas, comandada pelo professor Amilton Lamas.
“A ciência já diz que a mobilidade, o mais precoce possível, é muito importante para crianças com deficiência física. A gente tem que introduzir a mobilidade motorizada para crianças muito pequenas, só que isso, na prática, é uma realidade muito difícil, porque esbarra nas barreiras de acesso a equipamentos e tecnologia”, afirma a fisioterapeuta e cofundadora do Instituto Nossa Casa, Beatriz Santos Vieira.
A fisioterapeuta Marina Junqueira Airoldi, outra cofundadora da instituição, explica que a intenção dos pesquisadores é de que, a tecnologia seja disponibilizada pelo Instituto Nossa Casa para replicação ainda neste ano. Atualmente, um grupo de crianças e adolescentes participa do período de testes do dispositivo.
“Nosso objetivo é sempre disponibilizar com o menor custo possível e, se possível, sem custo. Ampliar acesso a esse equipamento, disponibilizar informação e passar os caminhos para que todos possam ter as mesmas oportunidades”, destaca Airoldi.
Autonomia
Joaquim, de 9 anos, é uma criança com paralisia cerebral que há pouco mais de um ano viu sua rotina mudar com a chegada de uma nova cadeira de rodas. Com mobilidade reduzida, o garoto teve acesso à nova tecnologia por meio do Instituto Nossa Casa e, agora, consegue se movimentar livremente apenas com o direcionamento da cabeça e toques leves na ponta dos dedos.
“O Joaquim, antes, para ir para onde ele quisesse, a gente que tinha que empurrar. Agora não. Ele consegue ir para onde quiser sozinho e desenvolveu muito a autonomia dele, foi muito bom. Ele fica mais feliz, brinca, vai para onde quer, brinca quando quer com os amigos, as irmãs. Fica muito feliz”, relata a professora Simone Paiva, mãe de Joaquim.
Fonte: G1