
Estudo de pesquisadores da Unifesp e da USP indica que a ayahuasca pode ter efeitos terapêuticos em casos de depressão e mal de Parkinson. A ayahuasca é usada em rituais religiosos como o Santo Daime e União do Vegetal.
É uma bebida produzida a partir do cipó e da folhagem de duas plantas amazônicas. Um de seus componentes é a dimetiltriptamina, que se assemelha ao LSD (ácido lisérgico).
No experimento, os pesquisadores administraram soluções com dosagens variadas, além de placebo, a roedores. A estrutura cerebral de cada grupo foi comparada. Os cientistas concluíram que no cérebro dos animais que tomaram ayahuasca houve diferentes níveis de produção de neurotransmissores – noradrenalina, dopamina e serotonina.
Os neurotransmissores propagam estímulos entre os neurônios. Após a ação, eles são recaptados ou destruídos por enzimas. A ayahuasca inibe as enzimas e concentra os neurotransmissores nas fendas sinápticas, fazendo com que eles tenham uma ação mais prolongada, o que potencializa suas ações.
“Já se sabia que alguns componentes da ayahuasca poderiam agir como antidepressivos. Mas não era sabido que eles alteravam a liberação de neurotransmissores em áreas cerebrais específicas”, afirma Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, do departamento de bioquímica da Unifesp, que participou da pesquisa.
O estudo é pioneiro em mostrar que a ayahuasca age de formas peculiares no hipocampo (área relacionada a aquisição de memória) e na amígdala (ligada a emoções).
Para Dartiu Xavier da Silveira, professor de psiquiatria da Unifesp e um dos responsáveis pelo estudo, alguns dos achados sugerem que o ayahuasca possa vir a ser um recurso para outras doenças, como dependência química e ansiedade. “Os tratamentos dessas doenças não funcionam para todos os pacientes. Cerca de um terço dos pacientes não melhora com nenhum antidepressivo disponível.”
Para o psiquiatra André Malbergier, do Hospital das Clínicas da USP, o estudo deve ser encarado com cautela. “O fato de a ayahuasca concentrar os neurotransmissores nas fendas sinápticas não significa que seja eficaz contra depressão”, diz o médico.
“Outras drogas como as anfetaminas e a cocaína também agem como inibidoras e nem por isso são recomendadas”, acrescenta. (AC- Campo Grande)