Conheça o canto da ave Araponga-da-Amazônia, mais alto que turbina de avião

Araponga-da-Amazônia entrou para o Guiness com o canto mais alto entre pássaros — Foto: Anselmo d'Affonseca

A penagem branca, o abdômen definido e um barbilhão de dez centímetros amarrado ao bico até podem parecer os traços de mais destaque da Araponga-da-Amazônia.


No entanto, em um olhar mais apurado, ou melhor, em um ouvir mais apurado, a característica que mais chama a atenção na ave amazônica, segundo pesquisadores, é o canto de duas notas emitido por ela, mais alto que a turbina de um avião a jato. O som chega a medir 125 decibéis, enquanto a turbina de um avião mede 110 decibéis.

O som é tão alto que entrou no Guinness Book, o livro dos recordes, como o maior entre os pássaros, em 2019. Do tamanho de um pombo doméstico, medindo cerca de 30 centímetros do bico à cauda e pesando cerca de 220 gramas, a Araponga-da-Amazônia impressiona quando solta o canto.

A regulação (medição específica feita com o mesmo tipo de aparelho que mede o som de grandes construções) foi feita pela primeira vez em 2017, pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e ornitólogo Mario Cohn-Haft, no estado de Roraima.

Segundo Cohn-Haft, a araponga emite o som mais alto já medido pela ciência entre todos os animais, e suas características físicas contribuem ajudam a produzir o canto ensurdecedor.

“Essa ave tem músculos abdominais muito fortes, o que é muito incomum em pássaros. Os pássaros são leves e possuem músculos abdominais mais finos, por conta do voo. Esses músculos mais fortes da Araponga são para a forte vocalização. O som é muito intenso, porém, curto. E para isso é preciso muita força nos pulmões e no abdômen”, explicou.

Foto: Anselmo d’Affonseca / divulgação

Existem quatro espécies de arapongas no mundo, e todas são da região tropical americana. Há uma espécie vivendo na América Central e três espécies que no Brasil, sendo duas na região Amazônica e uma na Mata Atlântica. A espécie também é encontrada no Amazonas, Pará, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Das duas que vivem na Amazônia, a Araponga-da-Amazônia é a espécie estudada por Mário Cohn-Haft. O macho tem as penas completamente brancas, com bico e pés pretos e um barbilhão. Já, a fêmea tem traços de cores marrom, verde e branco, sendo mais camuflada.

Canto conquistador

Não é aleatoriamente que a Araponga-da-Amazônia começa a cantar, segundo os pesquisadores. A ave tem uma forma muito peculiar. O macho balança a cabeça e sacode o barbilhão ao emitir o canto, que tem duas notas.

De maneira intuitiva, o animal emite uma nota olhando para a direita e outra virando a cabeça para a esquerda, gesto feito para atrair a fêmea, segundo Cohn-Haft.

“O que atiçou a curiosidade, além do fato de ser preciso de uma anatomia específica para um animal pequeno produzir um som desses, foi o fato dele usar esse som super alto de 125 decibéis, para cortejar a fêmea de perto, no ouvido. Ela pousa ao lado dele e ele emite esse som no ouvido da fêmea. Isso é surpreendente, porque os animais geralmente diminuem o volume para esse tipo de comunicação próxima. Mas esse pássaro faz diferente”, destacou.

O canto conquistador não é só mais alto que uma turbina de avião a jato, como também é muito mais intenso que outros sons já considerados ensurdecedores, como um show de rock (120 decibéis), uma britadeira (120 decibéis), motosserra (100 decibéis), entre outros.

O som mais intenso que a turbina de um avião a jato, que emite 110 decibéis, fica atrás por muito pouco do barulho da turbina de um avião de grande porte, que mede 140 decibéis. Podem existir animais com vocalização mais intensa, mas ainda não há registros.

G1

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