CPI da Covid-19 caminha rumo ao presidente Bolsonaro – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

Ne sempre investigações ou processos de impeachment comandados pelo Congresso Nacional têm a seu favor a opinião pública e provas robustas para o avanço das investigações e pedidos de indiciamentos dos malfeitores. Existiu Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI que tinha apenas a força da opinião pública, mas não existiam provas; assim como já teve CPI que possuía provas, mas não conseguiu opinião pública positiva. Mas, no caso da atual investigação conduzida pelo Senado Federal, existem provas e opinião popular favoráveis. Com isso, tudo indica que a CPI da Covid-19 caminha rumo ao presidente Bolsonaro.


O Congresso Nacional já realizou investigações que não tinham provas contundentes para o avanço dos trabalhos e, consequentemente, para o indiciamento, cassação do mandato e para o impeachment, mas devido à pressão da opinião pública muitos gestores e políticos foram cassados e alguns até sofreram impeachments.

O ex-presidente Collor foi afastado pelo Congresso Nacional devido à forte pressão popular desfavorável, mas as provas contra ele eram fracas, o que levou o Supremo Tribunal Federal – STF a inocentá-lo pelos crimes de que fora acusado. A ex-presidente Dilma Rousseff também teve o mesmo destino. Com provas frágeis de crime de responsabilidade, porém, com a popularidade muito negativa, ela acabou sendo afastada. O ex-presidente Michel Temer teve provas e opinião pública negativa, mas ele escapou do afastamento porque não tinha vontade política dentro do Congresso Nacional.

Em duas semanas de trabalhos da CPI da Covid-19, ficaram evidentes as provas de omissões e de ações contra a vacinação em massa e a preferência do governo federal pelo tratamento sem eficiência ou sem comprovação científica.

As afirmações do ex-ministro Luiz Mandetta e de Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, sobre a realização de reunião, dentro do governo, para mudar a bula do medicamento Cloroquina, a fim de prescrevê-lo para o tratamento contra a Covid-19, demonstram a intenção do governo federal para facilitar um “tratamento” sem valor científico. O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich disse que se sentiu pressionado pelo governo a adotar a cloroquina. O representante da Pfizer demonstrou que as propostas de ofertas das vacinas foram ignoradas pelo governo durante meses.

A recente pesquisa do Instituto Datafolha mostra que 82% dos entrevistados apoiam a criação da CPI da Covid-19 pelos senadores. Além disso, 75% dos pesquisados concordam que o governo demorou para comprar vacinas e perdeu boas ofertas de imunizantes. E, 72% acredita que a gestão Bolsonaro agiu com negligência com relação ao combate à Covid-19, além de 70% indicar que o governo deixou faltar medicamentos. Ademais, 50% afirma que não acredita nas palavras do presidente, contra apenas 14% que confia.

Nesta semana, as posturas dos ex-ministros Eduardo Pazuello e Ernesto Araújo, perante a CPI, podem complicar ainda mais o governo Bolsonaro. O próprio silêncio de Pazuello pode aparentar a confissão do errado, e Ernesto Araújo andou criticando o governo depois da sua saída do Ministério.

O Presidente Bolsonaro busca mudar o foco da opinião pública com o discurso sobre a necessidade do voto impresso, críticas ao relator da CPI, insinuações de medidas contra lockdowns defendidos por governadores, mas o presidente deveria conquistar novamente os eleitores com a melhoria da economia e a imunização da população.

A CPI começa a cair nas bênçãos da opinião pública e já alcançou provas comprometedoras contra o governo e caminha rumo ao presidente Bolsonaro. Embora, tenha ainda que expor os caminhos e os gastos ilegais dos recursos federais que chegaram aos estados e municípios brasileiros.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político, Advogado e Membro da Academia de Letras e Culturas da Amazônia.

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