[Crônica] Panteão – por Isabela Abes Casaca

thomas-thiemeyer-skyscrapperNo topo de um arranha céu reúne-se o panteão.


Mas, engana-se quem crê que ali estão os egípcios: Rá, Isis, Osíris, Hórus, Sekhmet, Bastet, Anúbis e Tot. Igualmente equivoca-se quem imagina lá estarem os babilônicos: Anu, Enlil, Ea, Sin, Xamaxe, Ishtar e Tamuz.

Também não marcam presença os nórdicos: Odin, Frigga, Thor, Loki, Freya, Balder, Kvasir e Búri. Nem passam perto dali os árabes: Hubal, Allat, Manata, Amm, Dhu’l-Halasa, Al-Qaum e Wadd.

Muito menos constam no recinto godsos tupi-guaranis: Tupã, Guaraci, Jaci, Tambatajá, Polo, Sumá, Rudá ou Tainacam. Da mesma forma, passaram longe daquele lugar os incas: Inti, Mama Quilla, Viracocha, Pacha Mama, Manco Capac, Mama Ocllo, Illapa e Kon.

Nem mesmo estão no Olimpo contemporâneo os célebres gregos: Zeus, Poseidon, Hades, Atena, Hera, Apolo, Afrodite, Ares, Hermes ou Deméter.

E ainda sim, no topo do arranha céu reúne-se o panteão. Mas então, quais são as deidades que lá estão? Se o Olimpo é contemporâneo, logo as entidades presentes o mesmo adjetivo tem. Nos suntuosos tronos de mármore respectivamente encontram-se:

SkyScraperBeauty, patrona dos gyms, dos aparelhos de ginástica, das salas de cirurgia plástica, dos procedimentos estéticos, dos cosméticos, dos suplementos alimentares, é nos milhares de espelhos que estão expressos seus altares.

Consumption, patrono das compras desnecessárias, das dispensas lotadas de produtos supérfluos, das incontáveis sacolas de produtos descartáveis, são os comerciais que compõe suas elegias fatais, ‘buy’ é o mantra que sempre clama por mais, mais e mais.

Party, patrono dos bares, das casas noturnas, dos alcoólicos drinks, da euforia desmedida, das relações fugazes, das paixões vorazes, da alienação sentimental, o DJ é seu menestrel, difundindo dissonâncias ao léu.

Greediness, patrono dos foodfakes, fastfoods, dos congelados, enlatados, processados, nuggetsados, condimentados, empanzinados, empachados, insaciados, sedentos, inúmeros devotos de olhos tristes, tão carentes de alimentos vívidos.

Contudo, estas são entidades menores, meios indiretos para cultuar a deidade suprema de nossos tempos. A rainha do panteão da religião materialista senta-se no lugar antes pertencente aos grandes. Sem exitar todos no recinto curvam-se perante Felicity.

Felicity, Felicity, Felicity… A regente das rasas buscas existenciais… Felicity, Felicity, Felicity…

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