Culpa, comparação e exaustão: como o Instagram está adoecendo a autoestima das mulheres – por Luanna Cunha

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional - Foto: Divulgação

Rostos iluminados, rotinas impecáveis, corpos padronizados e vidas “incrivelmente leves”. Ao deslizar o dedo pelo feed, muitas mulheres não percebem que o que parece inspiração, na verdade, pode estar se tornando um gatilho silencioso de frustração e autoexigência.


O Instagram — embora seja uma ferramenta de conexão e criatividade — tornou-se também um terreno fértil para a comparação tóxica. E, entre filtros, legendas motivacionais e uma estética de perfeição, muitas mulheres estão adoecendo emocionalmente sem perceber.

O que a comparação faz com o cérebro

De acordo com estudos da University College London, o cérebro humano possui uma região específica para a comparação social: o córtex pré-frontal ventromedial. Quando estamos constantemente expostos a imagens idealizadas, esse sistema entra em hiperatividade, reduzindo nossa autoconfiança e aumentando a autocrítica.

Em mulheres, isso se intensifica por fatores socioculturais. A psicologia positiva alerta que a exposição repetida a padrões inalcançáveis ativa circuitos cerebrais ligados à insatisfação corporal, à culpa e ao sentimento de inadequação.

“Quanto mais eu vejo essas mulheres com vidas organizadas e felizes, mais eu me sinto fracassando. E o pior: eu sigo mesmo sabendo que me faz mal.”

— Relato de uma paciente de 29 anos, em processo terapêutico para ansiedade.

O ciclo da comparação tóxica

A dinâmica é sutil, mas poderosa:

Você consome conteúdos que parecem inofensivos.
Seu cérebro começa a comparar — ainda que de forma inconsciente.
Você se sente “atrás”, “menos”, “errada”.
Sente culpa por não ser grata o suficiente pela própria vida.
Promete melhorar. Se exige mais. E volta a consumir, tentando se “inspirar”.
Esse ciclo, sustentado por algoritmos e reforçado por narrativas de perfeição, não gera motivação. Gera exaustão.

Quando o autocuidado vira cobrança

Outro fenômeno observado nos últimos anos é a performatividade do bem-estar. O que era para ser leve — como cuidar da pele, meditar, cozinhar algo saudável — virou mais uma obrigação a ser registrada, mostrada e validada socialmente.

Muitas mulheres relatam ansiedade ao “não fazer o suficiente” por si mesmas, como se o autocuidado também tivesse uma régua de comparação.

A consequência? Sentimentos de inadequação, procrastinação por perfeccionismo e dificuldade de se desconectar sem culpa.

Como se proteger sem se isolar?

1. Curadoria emocional: o que você consome te nutre ou te esgota?
Silenciar, deixar de seguir ou pausar conteúdos que causam desconforto não é fraqueza. É um ato de autorrespeito.
2. Relembrar que o feed é um recorte, não uma realidade
Mesmo as pessoas mais organizadas, saudáveis ou felizes têm dias difíceis. Elas só não os postam.
3. Cultivar uma relação mais compassiva consigo mesma
Substitua a comparação por curiosidade: “O que isso que estou sentindo quer me mostrar sobre mim?”.

A sua vida não precisa ser postável para ser valiosa

O Instagram pode ser uma vitrine bonita. Mas a sua vida acontece nos bastidores. E ela não precisa de filtro, aplauso ou curtidas para ser significativa.

A autoestima feminina não pode estar refém de algoritmos. É hora de escolher o que você consome com o mesmo cuidado que você escolheria o que come, o que ouve e com quem anda.

Porque saúde mental também é sobre proteger os olhos — e o coração — daquilo que te faz se sentir pequena.

Luanna Cunha é Psicóloga Clínica e Organizacional

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