Descontos nas farmácias: como seu CPF está alimentando um negócio bilionário de dados

Foto: Recorte

Nas farmácias do Brasil, a simples pergunta “Qual é o seu CPF?” se transformou em parte de um modelo de negócios bilionário. Ao fornecer o CPF em troca de descontos, os consumidores alimentam um gigantesco banco de dados que é usado para direcionar anúncios publicitários. De acordo com uma reportagem da jornalista Amanda Rossi, publicada no UOL, redes como a RaiaDrogasil, maior grupo farmacêutico do Brasil, utilizam essas informações para lucrar por meio da RD Ads, uma empresa especializada em publicidade segmentada.


Quando os consumidores informam o CPF, a farmácia coleta dados valiosos sobre seu histórico de saúde, como doenças, medicamentos e até métodos contraceptivos. Esses dados são usados para personalizar campanhas publicitárias, tanto no site das farmácias quanto em plataformas como YouTube e Facebook. A RaiaDrogasil armazena informações de 48 milhões de clientes, utilizando até 20 tipos de filtros para segmentar o público, categorizando-os como “sênior debilitado” ou “pais com filhos pequenos”, por exemplo.

O CEO da RD Ads, Vitor Bertoncini, destacou que 97% dos clientes fornecem o CPF sem hesitação, uma prática que não seria comum em outros países, como os Estados Unidos, onde o uso comercial de informações pessoais enfrentaria maior resistência.

Embora os descontos oferecidos sejam atrativos — como uma queda de preço de R$ 31,78 para R$ 8,50 em uma caixa de nimesulida —, há suspeitas de que os preços sem CPF sejam inflacionados para incentivar os consumidores a fornecerem seus dados. Hospitais e órgãos públicos pagam preços muito inferiores pelo mesmo medicamento.

Além disso, essa coleta de dados levanta questões sobre privacidade e o uso de informações de saúde para fins comerciais. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica esses dados como sensíveis, exigindo maior proteção. Embora a RaiaDrogasil afirme que os dados são anonimizados, especialistas questionam se essa prática é suficiente para garantir o cumprimento da legislação.

O uso de biometria nas farmácias já gerou polêmica em 2021, quando a exigência de fornecer digitais em troca de descontos foi alvo de protestos, levando à intervenção do Procon e do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Embora o uso de digitais tenha sido suspenso, a prática de solicitar o CPF continua.

A LGPD garante aos consumidores o direito de saber quais dados pessoais as farmácias estão armazenando e com quem essas informações são compartilhadas. Também é possível solicitar a exclusão desses dados. Para exercer esses direitos, o consumidor deve entrar em contato com a farmácia e pode acionar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) caso o pedido não seja atendido.

Enquanto a regulamentação sobre o uso de dados de saúde para publicidade ainda é limitada no Brasil, milhões de consumidores continuam a fornecer seus CPFs em troca de descontos, muitas vezes sem perceber a amplitude do uso comercial de suas informações.

Fonte: Sociedade Militar

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