
Nesse dia, nossa atenção deve ser voltada para o valor vital da água para os seres vivos, sua importância social e a necessidade da participação popular no gerenciamento da água no Brasil.
No ano de 2004, a Igreja Católica, preocupada com a importância desse líquido precioso, durante a Campanha da Fraternidade, teve como tema “A fraternidade e a água” e como lema “A água, fonte de vida”. O tema e o lema se justificam principalmente por causa dos gigantescos problemas que não só o Brasil, mas também toda a humanidade enfrenta diante dessa questão.
Há quinhentos milhões de anos as águas do nosso planeta são as mesmas, fazendo seu ciclo natural de evaporação, chuva, infiltração no solo e formação de fontes, rios, lagos e lençóis subterrâneos. Depois de terem prestado enormes serviços a toda espécie de vida, elas novamente evaporam, recomeçando o seu ciclo. Mas no último século as águas vieram perdendo sua pureza, atingidas pela poluição e por um aumento tão grande de consumo humano, que um dos principais desafios da humanidade no século XXI é a conservação das reservas de água da Terra.
Nós somos água; o corpo de um bebê é 90% água, o corpo de um adulto, 70%. Nosso planeta, à semelhança de nosso corpo, tem 70% de sua superfície coberta por água. Nós nascemos numa bolha de água. No ventre materno passamos nove meses dentro de uma bolsa com o líquido amniótico. Ele contém todas as substâncias necessárias para crescermos até saltarmos para o mundo.
Podemos ficar várias semanas sem comer, mas se não ingerirmos líquidos, em dois dias começa o processo de falência múltipla dos órgãos, levando uma criança à morte em cinco dias, e em dez, um adulto. Todas as formas de vida dependem da água. Não existe vida onde não há água. Por isso, do ponto de vista biológico, água e vida não podem ser separadas.
A saúde depende da água. A maioria das doenças do planeta é causada pelo uso de água imprópria para o consumo humano. Hoje em dia, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas não têm água de qualidade para beber e 2,4 bilhões não têm serviços sanitários adequados. A cada ano morrem dois milhões de crianças devido a doenças causadas por água contaminada.
Nos países mais pobres, uma em cada cinco crianças morre antes dos 5 anos de idade por doenças relacionadas à água. A metade dos leitos hospitalares do mundo está ocupada por pacientes afetados por enfermidades relacionadas à água.
Segundo dados da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), 20% da população brasileira não tem acesso à água potável, 40% da água das torneiras não tem confiabilidade, 50% das casas não têm coleta de esgotos e 80% do esgoto coletado é lançado diretamente nos rios, sem qualquer tipo de tratamento.
A ONU afirma que a situação vai piorar e vê um futuro assustador; em 2025, 40% da humanidade terá problema de água. A poluição das águas compromete tanto a vida biológica quanto a psíquica do homem contemporâneo.
Mesmo em regiões brasileiras com abundância de água, como a Amazônia e o Pantanal, muitas pessoas não têm água de qualidade para beber. Vários centros urbanos brasileiros, em determinadas épocas do ano, apresentam problemas sérios de abastecimento para sua população.
Cabe a cada cidadão, a cada comunidade, a cada povo ter o controle sobre a qualidade de suas águas e a cogestão no seu gerenciamento. É um novo tempo na história da água, é uma nova atitude que se impõe. Vale a pena ouvir e refletir a música “ Planeta Água” do cantor Guilherme Arantes.
É preciso desenvolver uma nova mística da água, no contexto de uma nova mística ecológica que é fundamentalmente a mística da vida, atingindo nossos hábitos cotidianos, no jeito de abrir uma torneira, escovar os dentes, tomar banho, lavar a louça, lavar o carro e assim por diante.
Portanto, cabe à população conscientizar-se sobre o uso e reuso da água. As empresas, por sua vez, têm responsabilidade de adotar tecnologias capazes de reduzir a demanda de água e o despejo de resíduos nos rios e mares. E o governo tem a obrigação de melhorar a legislação e garantir a sua aplicação cuidando da conservação dos reservatórios e de uma rede de distribuição eficiente.(Raimunda Gil Schaeken – Tefeense, professora aposentada, católica praticante, membro da Associação dos Escritores do Amazonas – ASSEAM e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR.)