Documentário revela como rezadores mantêm viva a fé cabocla na Amazônia

Foto: Reprodução/Youtuber

Lançado em Maués, obra dirigida por Leina Tavares e Neto Simões retrata rezadores como guardiões da memória espiritual


Silenciosos, discretos e muitas vezes invisibilizados pelas estruturas oficiais, os rezadores ganham protagonismo no documentário “Rezadores de Almas”, uma produção amazonense que resgata e celebra essa prática ancestral viva na Amazônia. O filme foi lançado em abril, na cidade de Maués, com apoio da Lei Paulo Gustavo, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, do Governo Federal, além de parceiros como a Prefeitura de Maués, Ponto de Cultura Espaço Pavulagi e Cine Porto dos Saberes.

A produção é um trabalho sensível de imersão na fé popular, conduzido pelos diretores Leina Regina Tavares Monteiro e Waldemir Coelho Santos Neto (Neto Simões), que percorreram comunidades ribeirinhas para registrar o cotidiano espiritual de homens e mulheres que, através da oração, da ladainha e da caminhada noturna, conduzem as almas dos falecidos e fortalecem os vínculos comunitários.

De acordo com a diretora Leina Tavares, a motivação para o filme nasceu do desejo de dar voz a figuras espirituais que resistem ao tempo.

“Rezadores de Almas nasce do desejo profundo de documentar, preservar e ecoar vozes que muitas vezes são silenciadas pelo tempo e pelas estruturas sociais. Este filme é, antes de tudo, um gesto de escuta e reverência. Projetamos registrar o sagrado que habita o cotidiano, o invisível que pulsa nos becos, nas matas e nas beiras dos rios”, explica.

Ao longo do documentário, os rezadores são retratados como guardiões de saberes ancestrais, herdeiros de tradições indígenas, negras e caboclas. As cenas revelam a simplicidade e a profundidade das rezas: o acender da vela, a benção ramos de plantas da floresta, o toque da sineta, os cantos murmurados em noites de silêncio. Cada gesto é uma ponte entre mundos e uma reafirmação da resistência espiritual na floresta.

Conforme destaca o codiretor Neto Simões, o filme é também um convite ao sentir, mais do que ao explicar.

“Nossa intenção foi criar uma obra que respeitasse os ritmos do silêncio, da fé e da floresta. Um documentário que não explicasse, mas que permitisse sentir. Que desse espaço ao mistério e à beleza da oralidade, das ladainhas, da caminhada e do gesto simples de acender uma vela ou bater a sineta.”

Além da valorização da cultura imaterial, o documentário denuncia os estigmas enfrentados por essas práticas: intolerância religiosa, invisibilização institucional e desvalorização histórica. A obra aponta o risco de desaparecimento desses rituais, que permanecem vivos graças à transmissão oral e ao compromisso silencioso dos rezadores com o bem-estar coletivo.

Para os diretores, a obra é dedicada a esses homens e mulheres que caminham “à margem” das instituições, mas sustentam o centro espiritual de comunidades inteiras. “Dedico este filme aos rezadores e rezadoras que caminham à margem, mas sustentam o centro da nossa espiritualidade popular. Àqueles que, mesmo diante da intolerância religiosa e da invisibilização institucional, continuam firmes, rezando pelas almas, pelas memórias e por nós”, afirma Leina.

O documentário tem classificação indicativa de 10 anos e está disponível gratuitamente no canal Puxirum Cultura no YouTube.

Artigo anteriorMotociclista morre ao colidir na traseira de caminhão na Estrada da Ponta Negra
Próximo artigoAlexandre Pato se oferece para custear traslado do corpo de Juliana Marins

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui