…E agora? (Por Flávio Lauria)

Professor Flávio Lauria(AM)

Por que os contos de Maupassant, escritos há mais de 100 anos, ainda são atuais e Shakespeare nada perdeu da força de sua dramaturgia, passados quatro séculos? Certamente porque a matéria-prima em que se inspiraram foram as virtudes e os vícios da natureza humana. Nada inventaram, senão analisar a oscilação pendular dos homens.
Nada que não seja próprio das misérias e grandezas da alma humana, desde os descendentes de Eva e Adão, muitíssimo antes que o rei Salomão tenha constatado que nada é novo sob o Sol. Isso nada obstante, ainda não aprendemos com a permanente contradição humana. Cultuamos ao longo de milênios ídolos de pés de barro ou satanizamos pecadores que, arrependidos, fizeram-se santos citados no hagiológio.


Essa digressão me vem à mente quando são desmascarados alguns dos ícones da república. Já assistimos a esse filme na década de 80. Muitos de nossos governantes e representantes foram eleitos legalmente, mas moralmente já não representam nosso povo.  A política brasileira implodiu. Partidos e políticos voaram pelos ares como nunca se viu. Sobrou pouca coisa – se é que sobrou – do velho edifício institucional. O cupim da corrupção não poupou sequer as ditas agremiações éticas, chegando a fustigar até mesmo o Palácio do Planalto, local onde muitas esperanças dos brasileiros ainda residiam.

Da terra arrasada, só falta afastar o entulho e partir para uma nova construção institucional. Para esse novo projeto, ficaram alguns balizamentos, fruto da experiência passada. Reeleições nunca mais, em quaisquer níveis, porque no Brasil, em vez de se constituírem em meios para o bem comum, viraram fins para o uso do poder pelo poder, e formadoras de dinastias familiares. Há que acertar o cronômetro das votações em datas coincidentes, com tempo menor de preparação, para que se reduzam os custos e as necessidades de financiamento das campanhas. Mecanismos de transparência total devem constar de lei, calçados em punições exemplares para aqueles que cultivarem relações espúrias entre a área privada e o setor público.

Outros parâmetros devem ser discutidos amplamente pelo povo, não se descartando uma constituinte – limitada para não se correr o risco de perderem-se os avanços sociais – porque o assunto extrapola a questão política e envolve também o arcabouço dos três poderes e até a forma de governo, parlamentarista ou presidencialista. Os edifícios envelhecem. Por falta de manutenção, a estrutura tem os ferros atacados pela ferrugem, os azulejos e os ladrilhos encardem e a pintura descasca. Os cupins comem o madeirame do telhado, a água se infiltra nas paredes que, por isso, trincam, a tubulação vaza e a fiação elétrica entra em curto. Os prédios ficam também defasados no tempo. A arquitetura se torna obsoleta.

Assim mesmo são as estruturas políticas. Urge uma agenda de desafios, na definição das prioridades futuras. E a primeira providência precisa ser a varredura do entulho ideológico, desobstruindo o caminho do progresso.(Flávio Lauria – Professor Universitário e Consultor de Empresas – [email protected])

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