Quando planejei minha vida pública nunca esteve nos meus planos um mandato de deputado federal. Tenho medo de despedidas – o que talvez se explique pelas perdas abruptas que tive na vida, meu pai e minha filha – não gosto de perder tempo dos amores que tenho. Além disso, sou meio índio, tenho apego a minha terra e a ideia de me afastar do Amazonas sempre me incomodou.
Sobre esse apego a nossa terra resgato trecho do famoso discurso do Cacique Seattle de 1854, quando o governo dos EUA propôs comprar as terras indígenas de Suquamish e Duwamis. Disse o cacique: “… essa terra é sagrada pra nós. A água brilhante que corre em nossos rios não é só água; é também o sangue dos nossos ancestrais. O murmurar das águas é a voz do meu avô.
Os reflexos no lago contam histórias de vida do meu povo. Os rios são nossos irmãos, matam nossa sede, carregam nossas canos e alimentam nossas crianças”. É assim que se sente um caboco, filho de parintinense, quando pensa em se afastar do Amazonas.
Mas, as circunstâncias me fizeram disputar o mandato de deputado federal e a generosidade e honrosa confiança do povo do Amazonas estão me dando a chance de exercer tal mandato a partir do dia 1 de fevereiro.
Alimentarei a saudade dos meus amores e da minha terra dedicando o melhor de mim pra honrar a confiança do nosso povo.
Sigo para exercer um mandato transparente, independente, combativo, austero que orgulhe nossa gente. Sigo pra ser ouvido como o “Deputado do Amazonas”!
Chego a Brasília certo da minha missão: manter os empregos dos amazonenses e a ZFM, lutar por geração de emprego e renda pra nossa gente e combater a corrupção e o desperdício de dinheiro público.
A tradução dessas prioridades passam por, na pauta local, defender os incentivos do Polo Industrial de Manaus, criar alternativas de diversificação estimulando uma “indústria amazônica”, enfrentar a crise na prestação de serviços de internet e telefonia, em especial no interior, e lutar pelo asfaltamento da BR-319.
No cenário nacional cumprirei a missão de influenciar no debate de uma Reforma Tributária que diminua a tributação sobre o consumo, a produção e a folha de pagamento, além de agir com medidas legislativas que promovam transparência, controle social, certeza da punição e eficiência administrativa como mecanismos efetivos de combate à corrupção.
Será pra mim um recomeço, uma nova chance, depois de 4 anos sem mandato. Será, por outro lado, tempo de sacrifícios, de distância da família, de saudades, que procurarei superar com disciplina e amor pela honrada missão que o povo do Amazonas me concede.
Peço a Deus que proteja a minha família na minha ausência e que me dê sabedoria, discernimento e humildade para cumprir a missão.
Termino com uma mensagem de José Saramago que diz muito sobre o tempo que passo a viver a partir de hoje com a chegada em Brasília.
“A viagem não acaba nunca (…) O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”.
É hora de recomeçar…
*Marcelo Ramos é deputado federal eleito pelo Amazonas
