
O caderno de Conflitos no Campo Brasil divulgado na última semana de abril é elaborado desde 1985, e reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo brasileiro, bem como indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais do campo, das águas e das florestas.
Das unidades da federação com índices mais elevados de conflitos por terra, quatro integram a Amazônia Legal. A região concentrou, em 2022, um total de 1.107 conflitos no campo, o que representa mais da metade de todos os conflitos ocorridos no país (54,86%), aponta o relatório. Outro dado alarmante é que, dos 47 assassinatos no campo registrados no Brasil no ano passado, 34 ocorreram na Amazônia Legal, o que representa 72,35% de todos os assassinatos no país.
Para Dom Ionilton, bispo de Itacoatiara (AM) e presidente da CPT, “nos últimos tempos a Amazônia virou ação de quem quer tomar a terra para crescer a área do agronegócio e mineradoras, resultado também de uma falta de política pública deixando os quilombolas, pescadores, seringueiros a mercê da própria segurança, os órgão de segurança com Funai, IBAMA, ICMbio perderam sua falta de atuação o que ocasionou o incentivo desta prática de tomar as terras e o aumento de conflitos na área de trabalho escravo. As causas decorrem do incentivo ao porte de armas, quem tem poder econômico facilita fazer o enfrentamento”.
Os dados da CPT também apresentam os principais causadores desses conflitos. No ano passado, os fazendeiros foram responsáveis por 23% das ocorrências de conflito por terra, seguidos do governo federal, com 16%. Em seguida, aparecem empresários (13%) e grileiros (11%). A principal mudança em relação ao ano de 2021 foi o crescimento da participação do governo federal nos conflitos por terra, que saltou de 10% para 16%.
“A CTP e outras pastorais desde agosto de 2022 tem tentado implementar uma campanha de enfrentamento do campo, a revelação da violência favorece a diminuição da violência, tendo por objetivo inibir o invasor e quem causa a violência. As políticas públicas necessitam acontecer, é urgente a revitalização do Funai, IBAMA, ICMBio. O Congresso Nacional, Senado Federal eleito ainda facilita a violência no campo, cabe então a sociedade civil e as igrejas, a conferência de bispos do Brasil incentivarem o congresso a fazerem leis que ajudem a diminuir a violência no campo. O poder judiciário tem que ter uma compressão evitando essa violência se propague, não pode uma área de terra que habita 400 famílias seja proclamado a pertencer a uma única pessoa ou empresa, retirando daquelas terras famílias. É necessário preservar a vida das pessoas do campo, preservar a vida da natureza, de todos os biomas e das nossas águas”, destaca o presidente da CTP.
Esse trabalho da CTP é de extrema importância, a violência no campo não encontra espaço na mídia, uma violência escondida e os dados do Caderno de Conflitos traz a cada ano a luz para esta realidade dura, é o único levantamento de dados estatísticos do Brasil.