Encontro de Parteiras Tradicionais da Amazônia

Encontro reuniu parteiras tradicionais e representantes de organizações -Foto: Everson Tavares

Aconteceu em Tefé, no Amazonas, o 12ª Encontro de Parteiras com o objetivo de disseminar técnicas para aprimoramento de partos em comunidades da Amazônia. O evento reuniu cerca de 40 parteiras de Juruá, Fonte Boa, Japurá, Maraã, Alvarães, Uarini e da cidade-sede do evento. As atividades aconteceram do dia 27 ao 29 de março.


No encontro foram realizadas palestras e dinâmicas com profissionais de medicina e enfermagem para tirar dúvidas das parteiras da região e contribuir com técnicas e dicas para melhorar o atendimento às gestantes.

Essa foi a 12ª edição da reunião de parteiras e a primeira desde a criação da Associação de Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas (APTAM). Também conhecida pelo símbolo do algodão-roxo (planta medicinal usada na assistência a gestantes), a associação é uma entidade civil organizada que luta pelas práticas tradicionais e populares da categoria.

Evento teve dinâmicas e atividades educativas – Foto: Everson Tavares

De acordo com a parteira Raimunda Parreira das Missões, o algodão roxo traz inúmeros benefícios para a gestante. “O algodão roxo serve para dor de cólica e também mulher fazer banho quando tá com coceira no corpo, por isso a gente indica”, afirma.

A associada Maria Lucimar Pereira Vale teve o primeiro contato com o ofício aos 12 anos, quando deu assistência a sua mãe, parteira. “Ela me chamou e disse ‘me ajuda aqui’, me deu um nervoso, mas eu fui”. Maria criou gosto pela profissão e não parou mais. “Tô até agora nessa luta por amor às parturientes e por amor às crianças. É muito bonito ver o nascimento das crianças, é uma honra. Eu faço parto porque tenho amor”, relata a comunitária, que levou a filha, Hélia, no encontro.

Técnica do Instituto Mamirauá ressaltou importância da associação – Foto: Everson Tavares

Conhecimentos aliados

A parteira destaca a importância das oficinas e capacitações realizados pelo Instituto Mamirauá, um dos organizadores do evento. Para ela, a troca de conhecimentos é essencial para melhorias do ofício. “Tanto a gente aprende com eles quanto eles [do Instituto] com a gente. Dos remédios caseiros eles não sabem, então a gente explica”, diz.

Para a técnica do Programa Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá, Maria das Dores Marinho, as informações da área de saúde são uma forma de complementação e não substituição dos conhecimentos tradicionais da parteira. “Uma mulher que começou a sangrar muito e está fraca e a parteira aprende a identificar que é, por exemplo, pressão baixa, então ela pode usar os próprios remédios caseiros. Se ela entende o que é o problema, ela entra com os próprios métodos. Por isso a importância dessas capacitações”, explica.

Maria Lucimar conta que informa as parturientes sobre os exames requisitados pelos médicos. “Eu digo para elas ‘só vou fazer o parto se vocês fizerem o pré-natal’, aí elas correm logo para fazer. Se tiver tudo preenchido direitinho [o cartão pré-natal], a gente faz”. Ainda assim, a parteira não deixa de receitar chás e outras soluções caseiras conhecidas pela eficácia nas melhorias de sintomas comuns da gestação.

Parteira Maria Lucimar levou filha para aprender sobre o ofício – Foto: Everson Tavares

Entre as atividades, uma palestra realizada pela representante da Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas (SUSAM), Sandra Cavalcante, abordou a importância do pré-natal tanto para as gestantes quanto para as parteiras e também os principais hábitos prejudiciais à gravidez como o consumo de drogas como álcool, cigarro e cafeína.

Uma das parteiras mais experientes do município de Tefé, Maria José, ressaltou a necessidade do alinhamento de informações entre parteiras e médicos. “O médico bateu ultrassom da minha neta grávida de 5 meses. Ela me disse que estava preocupada porque o bebê estava sentado, aí eu disse para ela ficar tranquila porque nessa fase o bebê tá em rotação. Por isso tem que fazer o pré-natal duas vezes, com o médico e com a parteira”. Uma das demandas da associação das parteiras é pela inserção do espaço para preenchimento da parteira no cartão pré-natal.

Além do Instituto Mamirauá, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o 12º Encontro de Parteiras de Tefé contou com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), SUSAM, Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA), entre outros.

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