Engessamento – por Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

O exercício de cargos públicos, via de regra, confere prestígio aos seus ocupantes. Mais elevado o cargo, maior o prestígio e isso tem origem no fascínio e na complexidade que envolvem as relações de poder, desde a ancestralidade humana. Carisma pessoal também atrai prestígio e isso decorre da carga de subjetividade e da grande influência que esse atributo natural tem naquelas relações.


Conceito, todavia, é uma qualidade mensurada por parâmetros mais objetivos. Ele é construído com atos e posturas ao longo do tempo. Exige coerência, trabalho, abnegação, bons propósitos, resultados concretos e mais uma gama de virtudes que diferenciam e qualificam determinadas pessoas para o exercício da função pública.

O prestígio pode ser adquirido instantaneamente e, várias vezes, é efêmero. É um reconhecimento público importante que oferece realce e, em muitas ocasiões, faz justiça aos valores pessoais de quem o adquire. Em contrapartida, o conceito é conquistado mais lentamente. Agrega valores mais consistentes e é permanente para quem o constrói. Ter prestígio facilita e ter conceito enobrece o desempenho daquela função. Tenho convivido e presenciado gestores que não possuem a capacidade de liderar nem de ter prestigio pois até isso é necessário ter presente a liturgia do cargo público.

Gestores que engessam a maquina administrativa, com subserviência, sem saber efetivamente determinar, mandar. Dizer que está administrando, é fácil. Quero ver implementar projetos, dizer que está coordenando a vacinação somente visitando os locais de vacinação, é enganação.

As circunstâncias de uma tragédia coletiva tanto podem abalar o prestígio e o conceito dos responsáveis pelo seu enfrentamento, como podem reafirmar esses atributos perante a população. Nessas ocasiões esses responsáveis passam por um duro teste arbitrado pela opinião pública.

Manaus, nas últimas semanas, foi duramente castigada pelas chuvas torrenciais que atingiram todo o Estado. É um inverno fora de estação. Rigoroso, concentrado, atípico e que, ao tempo em que alimentou algumas lavouras, trouxe sérios danos a habitações, escolas, hospitais, infraestrutura pública e à produção econômica em geral.

Estradas e sistemas de abastecimento d’água foram literalmente destruídos sem falar na principal perda irremediável das vidas humanas ceifadas pela catástrofe.

As consequências são do conhecimento geral e a reconstrução vai exigir esforço redobrado dos três níveis de governo, independentemente de atribuições formais. Nenhum município atingido reúne condições de enfrentar, sozinho, uma emergência de tal magnitude.

O Governo Federal aparentou sinais de boa vontade em colaborar, mas, parece encontrar dificuldades para operar a máquina pública. Não quero, no entanto, apresentar julgamento sobre um eventual componente político para o imobilismo burocrático que vem dificultando a colaboração.

Nesse contexto, é necessário que um grande trabalho de mutirão seja realizado nesse momento, ainda emergencial. Ações de ordem política, institucional e fundamentalmente operacional têm que revelar, agilidade, coordenação, vontade e, sobretudo, sensibilidade para solucionar os problemas. O mesmo trabalho estendo para os municípios por meio do trabalho realizado pelos prefeitos e respectivas equipes.

O apoio popular comprovado pelas últimas pesquisas do Datafolha reflete mais que um momento e uma circunstância. É também a percepção do valor de um homem público de prestígio que vem construindo seu conceito ao longo de uma história que começou na militância estudantil. Sua postura e sua atuação na emergência atual são os fatos mais recentes de um compromisso antigo e permanente.

Costumo repetir que, civicamente, somos uma sociedade alienada. Em média, não costumo encontrar pessoas, mesmo entre os bons amigos com que convivo, que, além de conhecerem seus direitos de cidadãos, preocupam-se com a melhoria da realidade institucional do País.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Vivem a criticar a conjuntura socioeconômica, veem a continuidade das crises, sofrem as consequências, mas não reservam o menor tempo na consideração de suas origens. Se existem fatores conjunturais a fomenta-las. Ficou fácil botar a culpar nos políticos e nos responsáveis pela administração, dificultando a formação de ânimo para as soluções inovadoras; fertilizantes.

Para que perder tempo pensando em opções institucionais se as respectivas dinâmicas ficam sempre nas mãos de políticos, que não prestam? Acredito que esse raciocínio equivocado povoa a inteligência de muita gente; da maioria mesmo.

Só não consigo entender o motivo pelo qual não se questiona o fato e não ocorrer melhoria com o rodízio de políticos no comando da máquina administrativa, quando se sabe que a maioria deles goza de bom conceito no exercício de outras atividades. Entendo que essa circunstância sozinha já deveria ser suficiente para induzir os questionamentos que vivo a fazer.

 

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