Entre o Cansaço e a Culpabilização: A Armadilha da Mulher Forte – por Luanna Cunha

Luanna Cunha, psicóloga clínica e organizacional - Foto: Divulgação

A frase “você precisa aprender a pedir ajuda” já foi dita para muitas mulheres que estão sobrecarregadas. Mas quantas vezes, ao pedirem ajuda, foram vistas como fracas ou incapazes? Desde cedo, somos ensinadas que ser forte é um valor essencial, que dar conta de tudo é uma virtude. Mas o que acontece quando essa força se torna uma armadilha?


Mulheres aprendem a administrar rotinas exaustivas, equilibrar trabalho, vida pessoal e emocional de todos ao redor, enquanto raramente encontram espaço para suas próprias vulnerabilidades. E quando chegam ao limite, o que encontram? Culpabilização e frases feitas que não resolvem o problema, apenas reforçam o peso que já carregam.

O Mito da Mulher Forte e Seus Impactos Devastadores

A cultura da mulher forte e resiliente está tão enraizada que, ao menor sinal de cansaço, muitas se sentem envergonhadas. Mas a resiliência sem limites não é virtude, é esgotamento.

Os reflexos desse mito aparecem no dia a dia:

  • Mães que retornam ao trabalho poucos dias após o parto para “não perder espaço” na carreira.
  • Profissionais que aceitam cargas excessivas com medo de serem vistas como incompetentes.
  • Mulheres que se responsabilizam emocionalmente por todos ao seu redor, sem espaço para suas próprias necessidades.

E qual é a mensagem implícita? Que o sofrimento feminino é aceitável, e que pedir ajuda é sinônimo de fraqueza. Mas a neurociência já demonstrou que a exaustão crônica afeta diretamente o funcionamento cerebral, aumentando os níveis de cortisol (hormônio do estresse) e comprometendo a capacidade cognitiva e emocional (Harvard Medical School, 2023).

Os Dados São Claros: Mulheres Estão No Limite

A sobrecarga feminina não é uma sensação subjetiva, é um problema mensurável:

  • Mulheres têm o dobro de chances de desenvolver depressão em relação aos homens (Organização Mundial da Saúde – OMS).
  • 59% das mulheres sentem-se frequentemente esgotadas, comparado a 48% dos homens (Gallup, 2023).
  • 80% das mulheres afirmam que o trabalho é sua principal fonte de estresse, sendo que 60% dizem que essa pressão é mal gerenciada (American Institute of Stress).
  • Mais de 70% das mulheres relataram dificuldade em reconhecer seus limites e pedir apoio (Journal of Occupational Health Psychology, 2023).

O resultado? Ansiedade, burnout e um ciclo de esgotamento que não pode mais ser ignorado.

Como Sair Dessa Armadilha?

A ideia de que a força feminina é inabalável precisa ser ressignificada. Algumas atitudes fundamentais para mudar essa realidade incluem:

  1. Pare de Romantizar a Sobrevivência: A verdadeira força não está em aguentar tudo sozinha, mas em reconhecer quando é hora de dividir o peso.
  2. Rejeite a Culpabilização: Sentir-se cansada não é um defeito. O corpo e a mente precisam de descanso, e ignorar isso tem consequências graves.
  3. Crie Espaço para Redes de Apoio: Conversar com outras mulheres, compartilhar experiências e normalizar o pedido de ajuda pode transformar sua relação com o autocuidado.
  4. Redistribua Responsabilidades: No trabalho e em casa, a carga mental não pode continuar recaindo sobre as mulheres. Políticas de equidade precisam ser implementadas.
  5. Diga “Não” Sem Culpa: Estabelecer limites claros é um ato de autovalorização. Mulheres que impõem limites têm menor incidência de burnout (American Psychological Association, 2023).
  6. Mude a Narrativa da Resiliência: O conceito de força precisa incluir descanso, acolhimento e bem-estar, e não apenas resistência ao sofrimento.

A Mulher Forte Precisa Ser Cuidada, Não Apenas Cuidar

Se a resiliência feminina continuar sendo sinônimo de auto sacrifício, continuaremos perpetuando uma cultura de esgotamento. A mulher forte não é aquela que nunca cansa, mas aquela que entende que sua saúde mental não pode ser o custo invisível da sua existência.

E você, consegue aceitar sua vulnerabilidade sem culpa? Vamos falar sobre isso. Precisamos de mais mulheres equilibradas, e não apenas resilientes.

Luanna Cunha – Psicóloga Clínica e Organizacional 

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