Entrevista com Neymar: foi-se o homem, ficou o estilo

Foto: reprodução do vídeo gravado em entrevista de Neymar ao programa Fantástico

Logo no primeiro take da entrevista exclusiva do programa Fantástico (Rede Globo) com Neymar, alguém aparece ao fundo, de braços cruzados, acompanhando a pergunta inicial dos apresentadores Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos. A cabeça está cortada, mas aparenta ser a figura do pai de Neymar. Ou de algum assessor de imprensa. Enfim, alguém que está lá para monitorar tudo o que é dito pelo jovem de 22 anos.


Foto: reprodução do vídeo gravado em entrevista de Neymar ao programa Fantástico
Foto: reprodução do vídeo gravado em entrevista de Neymar ao programa Fantástico

(VEJA A ENTREVISTA ACESSANDO ESTE LINK: Neymar fala sobre desempenho da seleção na Copa e preparação para futuro)

Destoando da postura mais incisiva na coletiva de imprensa dias após o vexame contra a Alemanha, Neymar parecia ter ensaiado todas as falas. Quase como um jogral programado para evitar danos, acusações ou polêmicas. Um alienígena que parasse na frente da TV naquela noite poderia jurar que era mais um astro pop de uma boyband qualquer. O boné com a rubrica do jogador, os óculos e brincos modernosos. Neymar não era mais o escudo da CBF que soube enfrentar os jornalistas com galhardia. Era apenas um jovem soltando clichês insignificantes.

Mas por quê? Neymar honrou a camisa amarela durante a Copa e foi, segundo estudo da Pluri Consultoria, o único jogador brasileiro que saiu valorizado do Mundial. Não foi brilhante em todos os jogos, mas procurou a todo o momento ser o líder de uma equipe desorganizada que o procurava como esperança única. Conceder uma nova entrevista agora só faria sentido se assumisse algumas opiniões importantes, com a cabeça mais fria, em um estágio em que todos se perguntam como o Brasil pode retomar o seu protagonismo dentro de campo.

Mas nem o melhor Media Training consegue prever alguns deslizes. Ao ser indagado sobre as falhas na preparação da Seleção brasileira, Neymar negou, mas sua fala perdeu sentido ao afirmar: “Eu sou um cara que não entende muito de tática”. Apesar da insistência dos jornalistas, o jogador se esquivou e preferiu não remoer as análises sobre a participação do Brasil na Copa do Mundo.

Quando a pauta guinou para o futuro da Seleção, Neymar também foi evasivo e não opinou sobre a possibilidade de um técnico estrangeiro. Abriu uma exceção ao admitir que o país tem problemas na formação dos atletas e que está alguns degraus abaixo de Alemanha e Espanha. Na sequência, perdeu-se tempo com mensagens dos amigos internautas, piadas nas redes sociais e perguntas sobre seu relacionamento amoroso como a atriz Bruna Marquezine. Depois, mais alguns questionamentos sobre destaques da Copa, sua contusão e o tempo de recuperação.

A entrevista foi mais bem treinada que a Seleção brasileira na Copa do Mundo. Após o drama vivido, a celebridade estava de volta. Sem nenhuma mensagem importante para ser compartilhada com a audiência. Muito menos alguma visão mais lúcida sobre o buraco em que o Brasil se meteu. O líder da Seleção não estava lá para contribuir com a discussão, e sim para encerrá-la. Não remoer. Não entender. Não apontar. Nada.

Se espremer a entrevista, sobra muito pouco. Ou resta apenas um diálogo curto, tolo, solto, que curiosamente traduz o que se viu na noite de domingo.

Tadeu Schmidt: “Você usa óculos mesmo ou é só charme?”
Neymar: “Isso é só um estilinho”.

A impressão é que Neymar tem pressa para apagar logo esse fracasso de sua carreira. Porque precisa estar rapidamente pronto para ressurgir, marcar gols, causar euforia, vender cuecas. Deixe que seus empresários ganhem os microfones para acusar os técnicos e companheiros pelo revés. O Neymar daquela coletiva de imprensa já não existe mais. Foi um lapso, um erro, uma ousadia desencorajada pelos manuais de marca. A derrota não está lá para ser aprendida, absorvida, mastigada com raiva. É uma bobagem. É uma intrusa que atrapalha o seu estilo. Um estilinho.

Fabio Chiorino

FONTE: Esporte Fino

 

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