Estabilidade afetiva – Flávio Lauria

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Professor Universitário

Quem estuda ou estudou Administração, conhece muito bem a Teoria de Maslow, psicólogo americano que definiu uma hierarquia para as necessidades humanas, criou uma pirâmide na qual aponta as cinco necessidades básicas do ser humano, por ordem de prioridade: fisiológica, segurança, afeto, autoestima e auto realização. Na área da criança e do adolescente em situação mais vulnerável, que vivem em meio à pobreza, violência e abandono, pode-se dizer que os abrigos tradicionalmente investem nas duas primeiras necessidades apontadas pela pirâmide de Maslow.


Em sua grande maioria, esses espaços asseguram minimamente a saúde física e a proteção dessas crianças e adolescentes afastados de suas famílias. Mas faltam afeto, autoestima e auto realização.

Na realidade, e apesar do amplo trabalho de divulgação que vem sendo realizado, a sociedade ainda não consegue diferenciar quais são as instituições que apoiam a criança e o adolescente e quais funções desempenham.

No caso do abrigo, há que se dizer que este não é orfanato e muito menos internato. Enquanto o internato é um local destinado a jovens que cometeram infrações de diversas naturezas, o abrigo é uma instituição de acolhimento para crianças e adolescentes em situação de risco, cujas necessidades básicas não estão sendo supridas. Os abrigos deveriam também ter um caráter provisório e o mais personalizado possível, conforme o artigo 92 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Salvo raríssimas exceções, crianças abrigadas não são órfãs e mais de 70% delas não são abandonadas. Possuem pai, mãe, irmãos e geralmente sofrem com a ausência desse vínculo afetivo. É por essa razão que o grande desafio de uma instituição de abrigo talvez seja o de assegurar a estabilidade afetiva necessária ao desenvolvimento do ser humano, necessidades essas que foram apontadas por Maslow.

Flávio Lauria é Administrador de Empresas e Consultor.

Sabe-se o quanto as crianças abrigadas desejam voltar para seus pais biológicos ou encontrar pais adotivos. Numa sociedade adversa como a nossa, o fortalecimento da capacidade dos pais em reassumirem dignamente seus filhos liga-se a projetos de apoio sócio familiar. Tanto que o artigo 90 do ECA aponta como prioridade o investimento em projetos que promovam o acompanhamento psicossocial dos pais com acesso à renda mínima.

Esgotadas todas as tentativas de apoio à família de origem e definida a situação de abandono, aí se faz necessário o investimento na adoção mantendo-se sempre seu direito à convivência familiar e comunitária. Talvez seja a hora de refletirmos sobre amor e afeto, não apenas como sentimentos básicos para a organização do indivíduo, mas como atitudes necessárias a uma sociedade consciente e participativa em seus projetos sociais, capaz de pensar globalmente e agir localmente.

Que cada um faça a sua parte, adotando um filho, um projeto, uma ideia, uma atitude cidadã e vivendo o dia da adoção como o dia do compromisso. E por falar em filho, Sempre achei interessante um trecho da música “Pais e Filhos”, escrita por Renato Russo: “Sou uma gota d’água / Sou um grão de areia / Você me diz que seus pais não lhe entendem / Mas você não entende seus pais / Você culpa seus pais por tudo / Isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser / Quando você crescer?” Ela nos faz perceber que nós, filhos hoje, somos os pais do futuro e, como tal, devemos buscar compreender mais nossos pais: Felizes, pois, os filhos que ainda têm seus pais e podem participar dessa troca de experiências formidáveis.

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