
Um estudo recente apresentado no 59º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MEDTROP 2024) sugere a possibilidade de transmissão intrauterina do vírus Oropouche, acendendo um alerta sobre os perigos dessa arbovirose. Identificado pela primeira vez no Brasil em 1960, na cidade de Belém (PA), o vírus tem causado surtos frequentes na região amazônica, considerada endêmica. O tema foi abordado durante uma mesa redonda do congresso, com a participação de especialistas que estudam a doença.
A médica Socorro Azevedo, doutora em virologia pelo Instituto Evandro Chagas, revelou dados de um estudo que analisou amostras de soro e líquor de pacientes investigados para arboviroses, como dengue e zika. Entre os casos analisados, quatro recém-nascidos com microcefalia apresentaram anticorpos contra o vírus da febre do Oropouche, o que sugere a possibilidade de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho durante a gestação. Azevedo ressaltou que a situação exige atenção semelhante à dada às grávidas com suspeita de infecção por zika.
Investigação de óbito fetal confirma presença do Vírus
Em outro caso investigado, a análise laboratorial de um feto que morreu com 30 semanas de gestação revelou a presença de material genético do vírus Oropouche em vários tecidos, incluindo cérebro, fígado, rins e placenta. Esses achados reforçam a necessidade de acompanhar gestantes com sintomas da doença e avaliar os riscos de complicações para o feto, principalmente em áreas endêmicas.
Agravamento e aumento de casos no Brasil
Desde o final de 2022, os casos de febre do Oropouche no Brasil aumentaram drasticamente. Em 2024, o país já registrou 7.044 casos confirmados, mais de oito vezes o número contabilizado em 2023. Embora a maioria das infecções seja leve, a doença pode causar febre súbita, dores musculares e articulares, náuseas e vômitos, e, em casos graves, pode levar a complicações neurológicas. O virologista Felipe Naveca, da Fundação Oswaldo Cruz, destacou que o aumento dos casos deve trazer à tona complicações mais graves, à medida que os testes para a doença se tornem mais comuns.
Transmissão e prevenção
O vírus Oropouche é transmitido principalmente pelo mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora. Em áreas urbanas, o pernilongo (Culex quinquefasciatus) também pode atuar como vetor. No ambiente silvestre, animais como preguiças e primatas não-humanos são hospedeiros, enquanto nas áreas urbanas, os humanos se tornam os principais alvos.
O diagnóstico da febre do Oropouche é desafiador devido à semelhança dos sintomas com os da dengue, o que torna fundamental a realização de exames laboratoriais. Não há tratamento específico ou vacina disponível, o que torna a prevenção essencial. Entre as medidas recomendadas estão o uso de repelentes, limpeza de áreas que possam servir de criadouros de mosquitos e o uso de telas protetoras em janelas.
Com os casos crescendo e complicações surgindo, o alerta sobre a febre do Oropouche deve ser levado a sério, especialmente em regiões endêmicas do Brasil.