‘Exame prévio: Arte censurada’ marca as comemorações do Casarão de Idéias

Recorte achado na prisão
Enfim, o lixo liberado
Enfim, o lixo liberado

Em todas as cidades do Brasil estão sendo relembrados os 50 anos da Ditadura Militar, e aqui no Amazonas, o Casarão de Idéias, na rua Monsenhor Coutinho, no centro, inaugura a exposição “Exame Prévio: Arte Censurada”, marcando as comemorações do quarto ano de atividades culturais do espaço.

A exibição inicia na quarta-feira (16), às 19h00, apenas pra convidados e será aberta ao público no dia 21 e segue até 16 de maio e poderá ser visita todos os dias das 14h00 às 18h00.


“Exame Prévio: Arte Censurada” é composta por cerca de 40 peças entre livros, textos, cartazes, documentos e outras peças que contam uma parte do movimento político vivido no Brasil com ênfase para os acontecimentos aqui em Manaus em várias áreas da cultura: teatro, dança, música e literatura.

O Acervo

Recorte achado na prisão
Recorte achado na prisão

No Casarão, estarão expostos documentos de alguns artistas que ainda estão na ativa, como é o caso do presidente do Conselho Municipal de Politica Cultural Márcio Souza, da atriz Nereida Santiago e, do jornalista e escritor Aldisio Filgueira. Todos cederam gentilmente objetos e documentos pessoais para que o público pudesse apreciar um pouco do processo político que foi instaurado no Brasil, em especial aqui no Amazonas.

O certificado que comprova a prisão do escritor Márcio Souza que na época foi acusado de ter lido livros proibidos. Dois livros intitulados “O Galvez”, que teve sua capa censurada, também de Márcio Souza. O livro “Estado de Sitio”, do jornalista Aldisio Filgueira que após sua edição, foi censurado e desapareceu e só foi relançado 36 anos depois, são algumas das peças que compõe o acervo.

A atriz Nereida Santiago disponibilizou a carteira, expedida pelo Departamento de  Policia Federal, responsável pela Censura, que autorizava ela a dirigir espetáculos teatrais na cidade. No local também será possível ver o cartaz do filme infantil de Maria Clara Machado “O Cavalinho Azul”, que teve sua exibição proibida em Manaus.

Porão

No período em que durou a ditadura no Brasil, grande parte dos acontecimentos eram feitos em porões como as torturas e também as reuniões secretas de artistas, para relembrar a história, foi criada uma instalação no porão do espaço cultural, onde o público poderá admirar algumas peças e viajar na história da Censura no Amazonas.

A exposição foi organizada por João Fernandes, diretor do Casarão de Idéias. Ele conta que a exposição é atemporal, ou seja, ela não foi pensada por uma linha cronológica. “Organizamos pela história e não por data. Queremos mostrar de que forma a Censura afetou a nossa arte. E reunimos documentos históricos após uma vasta pesquisa com autores e artistas amazonense”, diz ele.

Ele também conta que alguns documentos não estão legíveis e que para facilitar à visita a exposição terá áudio sensorial, em que vários textos foram gravados. “Tivemos o cuidado de transcrever e gravar alguns documentos históricos, que o tempo apagou. Mas queremos manter esta história viva”, afirma o organizador.

João Fernandes conta que na área da música, ele conseguiu com Guto Rodrigues a letra original da música “X9” que teve sua gravação proibida pelos militares. “A música produzida aqui também foi afetada pela Censura, não foi só Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros compositores brasileiro que sofreram com os censores”, explica.

Para o cinema, também eram tempos muito difíceis. Todo o investimento em filmes poderia ser desperdiçado em cortes ou até em proibições de exibição, após a revisão dos censores. João relata que não foi encontrado nenhum tipo de documento do audiovisual que tivesse sido proibido. “Porém há relatos na coleta de material. É importante frisar que as ações dos censores nesta área foi bastante forte e tivemos a exibição do filme  “L ‘ Age D’ Or”, do cineasta Luís Buñuel, em que os organizadores da sessão Joaquim Marinho, Roberto Kahane, Felipe  Lindoso e Marcio Souza todos tiveram que se apresentar na sede da Policia Federal para prestar esclarecimentos.”, conta.

10 anos proibido

Wagner Melo foi um dos artistas que cederam peças para a exposição. O texto “È Proibido Jogar Lixo Neste Local” faz parte do acervo, ele foi censurado por 10 anos. “Ele contou que mandou várias versões do texto para os censores, mas todos foram rejeitados. As pessoas acabavam marcadas pelo Departamento. E mesmo ele mudando de estado o texto era sempre marcado”, relata João.

Que também fala que mesmo sem todos os aparatos tecnológicos que temos hoje as informações eram transmitidas de forma rápidas. “Um documento que era proibido aqui no Amazonas, rapidamente era sabido pelo resto do Brasil no outro dia”, acrescenta.

Casarão de Idéias

O espaço cultural completa quatro anos de atividades, o local tem a chancela do Ponto de Cultura e é responsável pelo Festival Mova-se de Dança. Também possui aulas de iniciação teatral e dança.

Dentre os seus projetos, destaca-se o “Lugares Que o Dia Não Me Deixam Ver”, que faz intervenção urbana de artes integradas onde são apresentados espetáculos de teatro, dança e multimídia nas fachadas de prédios antigos da cidade.

A revista Idéias Editadas é um produto do Casarão que não tem cunho jornalístico, a impressão é trimestral, já esta no mercado publicitário há três anos e surgiu da necessidade de fazer o resgate de memória e histórico do que Manaus está vivendo enquanto arte.

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