Falta de acessibilidade dificulta ingresso de surdos no ensino superior

Brasil tem aproximadamente 10 milhões de surdos - Foto: André Borges
Nesta semana, comemoram-se o Dia Nacional da Educação de Surdos (23). E o Dia Nacional da Libras — Língua Brasileira de Sinais (24), a língua oficial dos surdos no Brasil. As datas relembram a importância de dar atenção às dificuldades e barreiras enfrentadas por essas pessoas. De acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São quase 10 milhões de surdos no país — o equivalente a 5% da população.
Há poucos dados e pesquisas sobre o número exato de surdos que estudam e chegam ao mercado de trabalho. Segundo a coordenadora do Serviço de Inclusão e Atendimento aos Alunos com Necessidades Educacionais Especiais (SIANEE) do Centro Universitário Internacional Uninter, Leomar Marchesini. O número é baixo devido à falta de comunicação para alunos surdos, que usam uma língua diferente dos demais alunos. ‘‘Nem todas as instituições de nível superior colocam intérpretes de Libras em suas aulas, o que é fundamental para os surdos’’.
Para Leomar, a grande dificuldade na inclusão de surdos no mercado de trabalho também é a comunicação. O fato de usarem uma língua de sinais, diferente da língua usada por colegas e chefes, cria uma barreira que afeta seu desempenho. Segundo ela, muitas vezes, os surdos sequer compreendem claramente as expectativas de seus chefes em relação ao seu trabalho. ‘‘A surdez é uma deficiência invisível, o que faz com que muitas pessoas achem os surdos iguais a todos os demais, sem necessidades de apoio e métodos diferenciados no trabalho e nas instituições de ensino. Entretanto, a inclusão de surdos é a que representa o maior desafio, pois existem grandes diversidades culturais e de percepção do mundo, que precisam ser conhecidas, respeitadas e valorizadas. Cursos de Libras nas empresas e de português para surdos são essenciais’’, explica.
Para alcançar a graduação, por exemplo, eles enfrentam as condições das universidades, muitas vezes desprovidas de núcleos de inclusão efetivos com a atuação de pessoas especializadas. De acordo com Leomar, uma instituição precisa estar preparada e disponibilizar tradutores, intérpretes de Libras competentes e qualificados, em todas as aulas e disciplinas do curso. “A Uninter é um bom exemplo. Nós fazemos todos os ajustes necessários, em todos os sentidos, capacitamos os professores, respeitamos os direitos dos surdos desde o vestibular com Libras e a correção de seus textos sob critérios diferenciados, compatíveis a uma segunda língua em aprendizagem, que para eles é a portuguesa’’, complementa.
Tiago Alves Carneiro Junior é um exemplo de superação dessas barreiras. No início de 2020, ele concluiu sua graduação em Direito na Uninter e foi o primeiro surdo a conquistar o feito. ‘‘Agradeço àqueles que me deram a oportunidade de realizar os meus sonhos e os sonhos de tantos outros que, muitas vezes, pensaram que não conseguiriam, mas que, graças ao SIANEE, estão estudando, buscando um desenvolvimento intelectual e profissional apesar de suas dificuldades’’, relembra.
O próximo desafio de Junior é o mercado de trabalho. ‘‘O Direito nos oferece um leque de possibilidades de atuação. Eu penso em me especializar, seguir carreira jurídica para ser um juiz, quem sabe um ministro do Supremo Tribunal Federal, mesmo sabendo que isso não é fácil’’, diz confiante.

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