Falta de pudor (Por Paulo Figueiredo)

Advogado Paulo Figueiredo/AM
Advogado Paulo Figueiredo/AM
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Nem bem fechadas as urnas de outubro e lá vem a presidente Dilma fazendo tudo o que tanto criticou na campanha. Além de condenar os atos contestados, atribuiu sua prática ao partido de seu opositor, o PSDB do senador Aécio Neves, no período em que os tucanos comandaram a República. Leia-se o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, há anos verdadeiro mantra para o lulopetismo em qualquer disputa eleitoral, que somente Sigmund Freud talvez pudesse explicar.

É o célebre faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Primeiro, o aumento da taxa básica de juros da economia, vergastada como intolerável e tida como receita típica do governo tucano. E agora a elevação dos preços dos combustíveis, gasolina e diesel, em 3 e 5%, com seus efeitos diretos e em cascata sobre os índices de inflação, que permanece acima do teto da meta, doendo no bolso dos assalariados e das donas de casa pelo Brasil afora.


A alta era inevitável e urgente, uma vez que os produtos eram vendidos no Brasil por valores inferiores aos vigentes e comprados no mercado internacional. Mesmo assim, a decisão foi escamoteada durante toda a campanha.  De qualquer sorte, no caso da Petrobras, trata-se de uma medida um tanto inócua, pois há uma defasagem de cerca de 20% nos preços que vinham sendo cobrados pela estatal brasileira.

As contas de energia, com novas tarifas, sofreram majorações da ordem de 18% nos últimos doze meses. Serão ainda mais pesadas no próximo ano de 2015, em razão dos custos de financiamento do setor, a serem repassados e suportados pelos consumidores, devidamente anunciados pela presidente. Dilma diz que também haverá ajustes em outras áreas governamentais, embora continue imprecisa ou enigmática, ao deixar de nomear com a indispensável clareza em que contas promoverá os acertos necessários.

Em contraposição ao discurso eleitoral, o governo admite rever subsídios de financiamentos de bancos públicos a empresas, mexer na regulamentação das pensões por morte, seguro-desemprego, abonos e auxílio-doença, com prováveis cortes e reduções de direitos antes considerados inegociáveis. Coitadas das viúvas, com suas rendas mensais aviltadas desde sempre, e misericórdia com desempregados, certamente obrigados a recorrer ao bolsa família, como alternativa de sobrevivência. Não se discute o mérito das decisões, que podem ser indicadas, mas o que não se admite é que se aja em sentido diverso dos compromissos levantados e assumidos pela candidata em campanha.

Que sejam sacrificados os indefesos ou os mais vulneráveis, contanto que mantida a orgia de gastos com a máquina pública e com a manutenção de mais de três dezenas de ministérios e outras secretarias, em cima dos quais fatia-se o poder dentro do mais puro e vergonhoso fisiologismo parlamentar e partidário. Então, a relação promíscua e disforme haverá de prosseguir na administração federal, porquanto não será extinta uma pasta sequer, “nem que a vaca tussa”, bordão que agora substitui o “no que se refere”, típico da pobreza vocabular e da dificuldade de expressão da presidente lulopetista.

Bem, é a eterna distância entre o discurso e a prática, evidência do político brasileiro. Ao longo do processo eleitoral, promete-se tudo, Deus e o mundo. E, logo após eleição e posse, a conversa é diferente, as ações mostram-se muitas vezes diametralmente opostas. No manuseio da palavra, vale qualquer expediente, mesmo fundado no cinismo mais despudorado. Antes da campanha, a presidente afirmava-se contrária às restrições à liberdade de expressão e comunicação defendidas pelo PT, mas, passado o pleito, admite a regulação econômica da mídia, a fim de quebrar monopólios ou oligopólios que entende existentes no país. O alvo óbvio é a Rede Globo, capaz de servir de cimento ou justificativa à criação de uma mídia partidária ou comprometida com o PT, no melhor estilo stalinista e bolivariano-venezuelano.

Ludibria-se e mente-se à vontade e nada acontece. Nenhuma obrigação de manter ou cumprir o que foi prometido ou negociado com os eleitores nos palanques, no rádio, na televisão e nos debates políticos. O candidato, ciente do vale-tudo, faz e acontece, sem que possa sofrer algum tipo de sanção. É o velho estelionato eleitoral, que denunciei neste espaço, hoje ampliado e edulcorado pelo marketing político, cujo único compromisso é com a vitória do projeto sob sua direção.

Ninguém mais agressiva nas eleições do que Dilma. Agora, sem nenhuma cerimônia, diz que o povo é elegante e que a pequena elite é que xinga e maltrata, numa referência aos eleitores de Aécio Neves. E é ela quem diz que na disputa “você se arrepende do que não falou”. Convenhamos, é muita falta de pudor. Imaginem os leitores o que ainda virá pela frente.(Paulo Figueiredo- advogado, escritor e analista político – [email protected])

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