Finitude e o sentido da vida – por Carlos Santiago

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado

Chegamos ao mundo sem pedir. Trazidos por fenômeno cheio de segredos. Evolução ou criação? Não importa. É bom! Mas logo nos deparamos com uma certeza: somos seres e caminhamos para o nada, para a morte. A finitude da vida humana não é uma escolha. É o caminho natural da espécie. Jamais seremos eternos. Então, por que a vida tornou-se uma inquietude diante da finitude?


Criamos famílias, tribos, comunidades e reinos. Plantamos e colhemos. Acumulamos riquezas e domesticamos animais e plantas. Nem por isso deixamos de ser finitos.

Criamos religiões politeístas, dualistas e monoteístas com rituais diversos, com deuses celestiais, com deuses terrestres e com deuses da natureza, com cultos e rezas nas igrejas, nas ruas e até em montanhas. Mas nem por isso deixamos de ser finitos.

Estabelecemos as moedas. Definimos o valor das coisas. Criamos mercados e mercadorias. Unificamos o dinheiro e tornamos o mundo num grande comércio. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Inventamos governos, impérios, conquistadores, reinados, califados, faraós e ditadores. Unificamos terras, pacificamos conflitos, produzimos conflitos. Monarquias, Oligarquias, Tiranias e Democracias são formas de governo criadas por nós. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Éramos simples habitantes das florestas, das savanas, dos pântanos, dos lugarejos e agora de enormes cidades; éramos coletores, caçadores. Atingimos a revolução cognitiva, a revolução agrícola, a revolução científica, a revolução industrial e tecnológica. E nem por isso deixamos de ser finitos.

As ciências nos deram mais tempo de vida, anestesiaram nossas dores, nos imunizaram de vírus mortais, curaram doenças, nos levaram a outros planetas. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Estabelecemos estados, patriotismos, produzimos guerras e armas poderosas que podem destruir a Terra. Matamos milhões de humanos e subjulgamos outros milhões. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Humanismo, liberalismo, capitalismo, socialismo, comunismo, fascismo e nazismo são modelos de olhar o ser humano e formas de dominação criados por nós. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Fundamos filosofias que olham e definem o ser humano como um indivíduo único, complexo e com inúmeras razões para viver muito e também para morrer precocemente; e filosofias que entendem o ser humano como coletivo, consciente e revolucionário. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Inventamos instrumentos de comunicação rápida, instantânea e tornamos o mundo pequeno diante de transportes rápidos. Fundamos o presencial e o virtual nas produções de bens e de comunicação. E nem por isso deixamos de ser finitos.

Implantamos preconceitos, classificamos o ser humano, determinamos ricos e pobres, brancos e pretos. Reconhecemos quem é ignorante e quem é sábio, apontamos belezas e feiuras, criamos sistemas prisionais e até estabelecemos pena de morte. Nem por isso deixamos de ser finitos.

Falar sobre a finitude não é fácil. Não é muito aceito na vida social. Causa dor, causa medo, causa sentimento de impotência. Criamos ideias de vida infinita, depois da morte física, na eternidade com Deus; e o infinito, no mundo material e orgânico, acontece mesmo depois da morte; e, ainda, o nosso infinito estaria sempre nas mentes de outros. Mas tudo são frutos da nossa criação.

Então, se a vida é finita, podemos transformá-la numa existência prazerosa. Tornar a nossa vida e do próximo mais dignas, isso não é ilusão. A finitude faz o ser humano refletir sobre o significado da vida. Amor, resiliência, bondade e fraternidade não nos levam a infinitude, mas tornam a nossa existência bem melhor.

Carlos Santiago é Sociólogo, Analista Político e Advogado.*

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