‘Floresta Silenciosa’ alerta sobre impactos causados pela degradação na Amazônia

Como o fogo e a retirada ilegal de madeira deixam a floresta morta (Foto: Chico Batata)

São Paulo – O processo de degradação da Amazônia a partir de agora pode ser acompanhado por uma plataforma online. Por meio da Floresta Silenciosa, o internauta tem uma noção de como essa destruição provocada pela ação humana e às vezes natural vem comprometendo todo o equilíbrio do principal bioma brasileiro. As análises são feitas a partir dos impactos nas florestas do Pará.


O lançamento da Floresta Silenciosa, idealizada pela startup de jornalismo Ambiental Media em parceria com o InfoAmazônia, aconteceu na terça-feira (20) em São Paulo e foi acompanhado pela Amazônia Real.

Os dados foram levantados a partir dos estudos de cientistas brasileiros e estrangeiros que integram a Rede Amazônia Sustentável (RAS). O resultado da pesquisa foi publicado na revista “Nature”.

“A degradação é um assunto tão pouco debatido e pouco explorado, por exemplo pela mídia, e gerar visualizações de dados é uma forma de tornar isso mais palpável para as pessoas”, diz o jornalista Thiago Medaglia, coordenador editorial da Floresta Silenciosa e fundador da Ambiental Media.

“Nós temos muitos mapas do desmatamento na Amazônia, mas pouquíssimo mapas da degradação. Os mapas da degradação são muito técnicos. O nosso é mais midiático, no bom sentido”, completa ele.

A escolha de Floresta Silenciosa para nomear a ferramenta se dá justamente por conta de um dos principais impactos da degradação na Amazônia: a morte e a fuga de espécies animais nativas daquela área atingida.

Se em florestas o som dos cantos de aves e o sussurro dos mamíferos são a sinfonia da mata, em áreas degradadas predomina quase o silêncio pela ausência destes animais.

“Quando a gente fala que a floresta está lá, mas que ela está silenciosa, ou seja, que as espécies não estão mais lá, outro processo que acontece é que espécies que não são da floresta começam a invadi-la”, afirma Renata Pardini, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

Para medir os danos da degradação, os cientistas elaboraram o Déficit de Valor de Conservação. Este cálculo foi feito apenas em áreas do Pará, estado onde a Amazônia sofre com pressões de atividades como a extração ilegal de madeira e o desmatamento para se abrir pastos ou áreas de cultivo.

Como o fogo e a retirada ilegal de madeira deixam a floresta morta (Foto: Chico Batata)

O fogo é uma das principais formas de degradação das matas. Neste caso não são somente os grandes incêndios florestais ou os usados após o desmate de uma área para limpá-la. O grande problema são os “fogos rasteiros”, com alto potencial de destruição.

“Quando a gente pensa na Amazônia pensamos no fogo para o desmatamento. Agora, o fogo que a gente está falando é o fogo rasteiro. Ele vai ter, no máximo, 30, 40 centímetros a altura da chama, mas que vai causar uma mortalidade tanto da fauna como da flora enorme” ressalta Erika Berenguer, da Universidade de Lancaster, em Londres.

Em agosto de 2016 a Amazônia Real visitou a fazenda Tanguro, em Mato Grosso, onde o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) desenvolve estudos práticos sobre o impacto das queimadas no processo de degradação da floresta, e a sua difícil e lenta regeneração.

Degradação: menos vida na floresta

A retirada seletiva de árvores num primeiro momento pode não representar grandes impactos, mas se ela ocorrer de forma extensiva a floresta tende a perder sua capacidade de recuperação. A abertura de grandes áreas no meio da floresta, chamadas de fragmentação, para a extração madeireira clandestina é outro potencial de danos.

“A degradação é produto de uma série de fatores Os fatores estão interagindo. A fragmentação da floresta cria o efeito de borda. Por quilômetros aquela floresta vai estar sofrendo influência dessa área que foi aberta. Entra mais luz, vai ressecar, o microclima. Vai ser diferente, as espécies vão ser diferentes”, diz Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará, e uma das coordenadoras da RAS.

A perda da biodiversidade é a característica mais clara dos efeitos da degradação. Segundo Renata Pardini, este processo provoca uma perda superior a 30% da fauna e da flora originais. Ao se olhar uma floresta degradada de cima pode-se ter a impressão de que o seu sistema biológico funciona de forma perfeita. Mas as aparências enganam.

A extração madeireira clandestina é outro potencial de danos/Foto: Divulgação

É nessa perda de biodiversidade que é calculado o Déficit de Valor de Conservação pela plataforma Floresta Silenciosa.

“Este déficit é mais ou menos isso. Ele não é um mapa do desmatamento. O que estamos falando é que tem floresta, mas só que nestes lugares bem vermelhinhos [do mapa] essa floresta tem um déficit de mais de 30% de biodiversidade. Essa floresta está lá, mas ela não tem a integridade do sistema”, diz Renata Pardini, da USP.

“O que se considera hoje [em impactos na Amazônia] é o desmatamento. A avaliação é: se ali eu tenho uma porção de floresta, então onde eu tenho floresta se tem 100% da biodiversidade. A novidade do trabalho é justamente essa. Eu tenho aquela quantidade de floresta mas eu não tenho 100% da biodiversidade”, completa Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa no Pará.

Outro agravante provocado pela degradação: a perda de capacidade da floresta de estocar carbono. De acordo com as cientistas da RAS, com parte da Amazônia deixando de exercer uma de seus principais “serviços” o Brasil coloca em risco suas metas de redução nas emissões de gases de efeito estufa.

O estoque de carbono em florestas degradadas é bem menor do que na comparação com áreas preservadas; em média, 40% menos.

Fonte: Amazônia Real

 

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